Eis uma história brilhante: de quase dizimado a líder em popularidade
A história do British Shorthair remonta a cerca de 2 mil anos atrás. “É uma das raças mais antigas que existem”, comenta Raphael Paiva, do gatil Favret Cats, de São Paulo. O pontapé inicial para sua formação se deu quando os romanos conquistaram o Egito e trouxeram de lá elegantes felinos domésticos habituados ao clima desértico, que demonstravam habilidade como caçadores de ratos.
Nas ilhas britânicas, esses gatos ganharam características diferenciadas, fruto da mistura com felinos maiores e mais musculosos, que circularam por séculos nas cidades e nos campos. Ficaram então mais robustos e arredondados e exibiam pelagem espessa e curta. Graças ao temperamento pacífico, confiável, tranquilo e sociável, conquistaram os lares, especialmente a partir do século XVII, quando a manutenção de gatos como pets tornou-se prática comum. Surgiu então o primeiro protótipo do British Shorthair. “Esses ancestrais da raça também foram muito importantes na história de outros felinos”, ressalta Raphael, que se refere ao fato de eles, levados pelos colonizadores britânicos, terem chegado aos Estados Unidos, onde desenvolveram características próprias com o passar do tempo e geraram a raça American Shorthair.
O British Shorthair como se conhece hoje foi desenvolvido pelo inglês Harrison Weir. Encantado com a beleza e a disposição agradável dos ancestrais desse gato, ele começou uma pequena criação, selecionando os mais saudáveis e belos – na época, Harrison estava especialmente fascinado pelos exemplares de cor azul (cinza). Tanto que, no primeiro padrão da raça, escrito em 1871, esta foi a única coloração citada. A aparição oficial inicial do British ocorreu no mesmo ano, na primeira exposição de gatos do mundo, idealizada pelo próprio Harrison, no Crystal Palace, em Londres. A gata vencedora foi uma British azul de Harrison.
Revés na raça
Com as duas guerras mundiais, muitos exemplares da raça foram sacrificados ou abandonados: a criação de gatos era vista como algo luxuoso, incompatível com a austeridade desses dois períodos – seus proprietários não podiam mais sustentá-los. Ao fim de ambos os conflitos, a maioria dos poucos espécimes remanescentes era parente. Como acasalamentos consanguíneos poderiam causar sérios problemas de saúde, criadores resolveram, então, cruzar o British Shorthair com algumas raças puras, particularmente Persas. “Eles se viram na necessidade de recuperá-lo antes que se desse a extinção e, assim, foram realizados cruzamentos com outros gatos, acarretando novas características ao British”, explica Raphael Paiva. Entre estas últimas, a principal se relacionava ao fato de exemplares exibirem pelos longos, herança dos Persas. “Quanto ao comprimento da pelagem, esses acasalamentos inter-raciais com o Persa e outros geraram um impacto negativo para a maioria dos criadores, mas alguns entendem que, graças ao gene de pelo longo, a pelagem do British se tornou mais macia”, conta Eileen Dealey, do gatil Ellclaracats, do Reino Unido.
De qualquer maneira, nos anos seguintes, a reprodução cuidadosa devolveu ao British Shorthair a sua forma original de pelo curto. “E os exemplares de pelagem longa que foram gerados a partir do final da Segunda Guerra já são reconhecidos hoje como British Longhair por algumas associações felinas”, informa Raphael. É o caso da Fédération Internationale Féline, da The International Cat Association e da World Cat Federation. Enquanto isso, Eileen conta que tem crescido a demanda para que o British Long-
hair seja reconhecido como raça pelo Governing Council of the Cat Fancy (GCCF), importante entidade do segmento sediada no Reino Unido. “E, recentemente, ele superou algumas etapas para esse objetivo”, relata ela, que acrescenta: “por outro lado, filhotes de British Shorthair com um ancestral de pelo longo até quatro gerações não estão mais aptos a competir nas pistas de exposições do GCCF, para evitar que a influência do gene interfira na aparência do gato”.
Popularidade
O trabalho pelo qual o British Shorthair teve suas características originais recuperadas foi minuciosamente executado. A raça se solidificou e logo se espalhou pelo continente europeu e pelo mundo, sendo sempre muito apreciada. “O British nunca sai da atenção dos olhos dos apreciadores de gatos, devido a todas as características da raça, desde a pelagem compacta e fofa, até o comportamento calmo e companheiro”, afirma Raphael.
No Reino Unido, considerado sua terra natal, desde 2001 o British Shorthair é o gato que conta com o maior número de registros pelo GCCF, que reconhece 40 raças. Em 2020, por exemplo, foram registrados pela associação 9.111 exemplares, mais que o dobro do segundo colocado, o Ragdoll, e cerca de 3 mil a mais do que o próprio British registrava há 15 anos, mostrando que sua popularidade só aumenta entre os criadores da entidade. “Esses gatos podem ser criados hoje em até 30 cores e marcações diferentes, mas o British azul ainda é o mais popular e mais conhecido por aqui”, informa Eileen. Ela completa: “curiosamente, gatos bicolores e tricolores são menos populares no Reino Unido do que na Europa continental, mas está aumentando o conhecimento do nosso público em geral de que os espécimes da raça podem apresentar tais marcações e, assim, elas vêm sendo mais requisitadas”.
Raphael afirma que, atualmente, os melhores exemplares da raça estão em países como Alemanha, Portugal, Bulgária, Polônia, Espanha e Rússia. “Por causa do aprimoramento genético, a criação nesses países está se destacando muito, fazendo com que a busca por padreadores e matrizes dessas nações seja alta.” Já quanto ao Reino Unido, Eileen admite que, como a procura pela raça vem aumentando, o número de gatis de fundo de quintal também tem crescido. “As características essenciais do British estão em risco por aqui, pois esses criadores estão interessados apenas no lucro”, conclui ela.
Agradecimentos:
EILEEN DEALEY, gatil Ellclaracats –
www.ellclaracats-british-ragdolls.com
RAPHAEL PAIVA, gatil Favret Cats –
www.gatilfavretcats.com.br,
Instagram @Gatilfavretcats