Os cuidados iniciais com o filhote felino serão muito importantes para um bom desenvolvimento do pet
Uma vida boa e saudável para um gatinho começa na infância. É durante este período inicial da vida do pet que ele estabelece as primeiras interações, e elas serão muito importantes para definir comportamentos futuros. Como nos primeiros meses ele também está desenvolvendo sua imunidade, é uma época de atenção à saúde e aos primeiros cuidados básicos junto ao médico-veterinário. Para você não ficar perdido, listamos algumas dicas que vão nortear estes primeiros meses do seu bichano.
1 – PRIMEIRAS VISITAS AO VETERINÁRIO E VACINAÇÃO
Um filhote ainda está se desenvolvendo. Por isso, a saúde é mais frágil e delicada, e ele fica mais suscetível a doenças. Portanto, ele precisa de um acompanhamento com o médico-veterinário, que pode solicitar exames para um check-up completo, incluindo testes para FIV e FeLV (leucemia felina), doenças graves e altamente transmissíveis para outros gatos. A vermifugação também é um passo importante nesta lista de cuidados básicos, assim como a vacinação – que também devem ser conduzidas pelo profissional de saúde felina. A partir dos 60 dias, o gatinho pode ser vacinado com a primeira dose da V4 ou V5, com a aplicação da segunda dose de 21 a 30 dias depois e a antirrábica a partir do quarto mês de vida. Quando o cronograma vacinal é executado corretamente, o filhote se protege contra doenças como raiva, rinotraqueíte, clamidiose, panleucopenia e a própria FeLV, no caso da V5.
2 – ATENÇÃO À INATIVIDADE
Gatinhos filhotes passam muito tempo dormindo – isso é normal. Às vezes, no meio de uma brincadeira, eles podem parar, deitar e decidir tirar um cochilo. Mas, segundo Estela S. G. Pazos, médica-veterinária especializada em comportamento e medicina de felinos, eles devem ter energia para brincar, escalar, mastigar o que encontrar na frente e até aprontar e engolir o que não devem. “Devemos nos preocupar quando o gatinho está quieto demais, não se interessa por brincadeiras, não interage, não busca se alimentar ou ingerir água”, alerta. Neste caso, é fundamental buscar suporte de um médico-veterinário.
3 – NÃO ESPERE PARA IR AO VETERINÁRIO
Caso você perceba algo estranho no comportamento do filhote, não demore para fazer a visita ao médico-veterinário. “Jamais espere muito tempo para buscar ajuda, pois os filhotes são muito sensíveis”, aponta Estela. O atraso no diagnóstico de um gatinho, que ainda tem a saúde frágil e cuja imunidade ainda está se desenvolvendo, pode levar ao rápido agravamento do quadro e até ao óbito.
4 – ALIMENTAÇÃO ADEQUADA
Uma vez que estejam desmamados, os filhotes felinos também vão precisar de cuidados especiais no quesito alimentação para continuarem seu desenvolvimento de maneira saudável. “Neste período, o bichano está em fase de crescimento, e o desenvolvimento dos seus órgãos está acontecendo. O gatinho deve receber a melhor alimentação possível, seja ela a ração comercial ou um alimento bio apropriado, que é a alimentação natural (AN)”, cita Alessandra Amarante Smith Maia, veterinária especializada em medicina de felinos que também atua na área de medicina funcional e nutracêutica. Caso a AN seja a escolhida, ela alerta: a dieta, que precisa ser equilibrada e balanceada, deve ser definida e acompanhada por um médico-veterinário nutricionista, para que ele não fique com nenhuma deficiência nutricional.
5 – CONDICIONAMENTO COMPORTAMENTAL
Diferentemente dos cães, o adestramento não é a solução mais recomendável para os gatos. Afinal, segundo Estela, a solução não condiz com o comportamento felino. “Os gatos podem ter seu comportamento condicionado pelos humanos, entender o que é certo ou errado, mas não podemos esperar o mesmo tipo de obediência dos cães. Na natureza, os cães vivem em grupos e possuem um líder, ou seja, possuem naturalmente essa subserviência. Já os gatos são animais mais solitários, não têm um líder e, mesmo vivendo em colônias, continuam sendo mais individualistas”, compara Estela. Isso não significa que você não vai conseguir ensinar bons modos para o seu gatinho, mas a abordagem precisa ser diferente. “Sempre que o gatinho tiver um comportamento indesejado, ignore-o e deixe-o sozinho ou desvie sua atenção com algum brinquedo. O aprendizado deve ser sem punição e totalmente voltado para a recompensa quando fazem algo certo”, completa. Estela reforça que a punição não só não funciona, como também gera ansiedade e medo no animal. O uso de métodos punitivos no seu filhote pode gerar problemas comportamentais futuros. “Jamais utilize borrifador de água, barulho, fita adesiva ou qualquer outro estímulo aversivo”, avisa Estela.
6 – ESTÍMULOS SONOROS
Gatos podem se tornar medrosos caso não recebam estímulos sonoros positivos durante a infância. Alessandra sugere que nos primeiros meses de vida, o filhote seja apresentado a sons diversos, pois é nessa fase que ele está mais receptivo. “Assim ele pode entender que são sons ‘amigos’. É uma forma de evitar que se tornem adultos medrosos”, enfatiza.
7 – ARRANHANDO NO LUGAR CERTO
O gato não arranha o seu sofá para provocar você. Esse é um comportamento bem natural da espécie. Afinal, as unhas dos bichanos precisam ser afiadas e gastas de tempos em tempos. Além disso, a arranhada também é uma forma de marcar seu território, uma vez que, ao pressionar as patinhas no local, eles liberam feromônios presentes nas glândulas desta região. Mas isso não significa que o tutor precisa se conformar com a destruição dos seus móveis. “Para evitar que arranhe o sofá, o principal ponto é ter arranhadores suficientes para ele, que tenham uma base forte para não balançar e cair. Evite os arranhadores muito baixos, pois eles gostam de se alongar enquanto afiam as unhas, afinal, na natureza, eles usam as árvores para isso. Deixe um ou dois arranhadores na sala. Os gatinhos gostam de arranhar em locais que há passagem de pessoas e onde seus tutores estão. Ofereça aqueles com texturas diferentes, como sisal, carpete e papelão”, lista Estela. Mas se, mesmo depois destas dicas, o seu pet ainda procurar o sofá, busque direcioná-lo para o arranhador com um brinquedo, por exemplo a varinha, estimulando a caça e permitindo que o filhote perceba a textura do arranhador.
8 – NÃO ESTIMULE SUBIRONDE NÃO DEVE
Os gatos têm grande facilidade para subir em locais altos. Portanto, é só questão de tempo para o seu filhote sair escalando os móveis e espaços da casa. Se é importante barrar algum desses locais, como a mesa da cozinha, é importante nunca estimular que ele suba ali. E sempre que ele subir, “desvie sua atenção para o chão com um alimento ou uma brincadeira”, esclarece Estela. Com o tempo, muita repetição e paciência, o gatinho deve começar a evitar o lugar indesejado.
9 – MÃOS LONGE DOS DENTINHOS
É muito comum que os filhotes mordam as mãos dos tutores, seja para brincar ou para aliviar o incômodo da gengiva enquanto os dentinhos crescem. A atitude pode parecer fofa enquanto são pequenos, mas Estela desaconselha que o tutor a utilize. “Conforme o gatinho vai crescendo, ele passa a machucar, e a brincadeira torna-se mais bruta. Não devemos usar as mãos nem os pés para brincar com eles, o estímulo deve ser sempre com brinquedos. As mãos devem ser usadas apenas para o carinho”. Mais uma vez, caso o pet tenha uma atitude contrária ao que se espera – no caso, morder a mão do tutor –, a indicação é que ele seja ignorado. “Retire a mão e saia de perto. Assim, ele entende que não terá mais a brincadeira. Ou então desvie a atenção dele com algum brinquedo, e ele entenderá que a mão não vai interagir com ele para brincar”, completa.
10 – EVITANDO ACIDENTES DOMÉSTICOS
É normal que o filhote passe a morder as coisas em sua casa. Além de aliviar o incômodo na gengiva durante o crescimento dos dentinhos, eles também, como crianças, estão descobrindo o mundo através das mordidas. Por isso, a atenção deve ser redobrada diante de qualquer objeto no lar que possa lhes fazer mal. “É importante que linhas, fios, pequenos objetos e produtos de limpeza, por exemplo, não fiquem espalhados de qualquer forma pela casa. Afinal, os gatinhos, ao brincarem, podem morder e ingerir tais objetos, um acidente que requer encaminhamento a um serviço de urgência veterinária”, alerta Alessandra.
11 – PROCURANDO UM GATIL SEM CAIR EM “ROUBADAS”
Caso você decida comprar um filhote de raça, é preciso ter alguns cuidados para escolher um criador idôneo e, assim, evitar problemas de saúde e comportamento futuros para o seu companheirinho peludo. “A escolha de um filhote saudável depende de um bom criador. Visite o local onde os gatos ficam no gatil, veja se há aglomerados de gatos e qual é a situação em que eles vivem. Busque informações com pessoas que já possuem gatos desse mesmo criador e veja se ele está registrado em alguma federação. Também sugiro certificar-se de que ele vende os filhotes castrados, vacinados e somente acima dos três ou quatro meses de idade, pois esse período de convivência que o filhote terá com os irmãos é de extrema importância para a sua socialização. Verifique ainda se os pais são saudáveis, se possuem exames para exclusão de doenças genéticas da raça e se há um médico-veterinário responsável acompanhando a criação”, indica Estela. Apesar das dicas, a veterinária lembra a importância da adoção, que também pode ser feita com protetores ou ONGs responsáveis – algumas das dicas também são válidas para eles.
12 – ESTÍMULOS CERTOS
Durante a infância é possível incitar no filhote diversos estímulos que podem facilitar a sua alimentação e até a manipulação quando adulto. Ao introduzir o contato com diversas texturas de alimentos, o tutor apresenta a ele outras possibilidades de comida. “Sabe aquele gato adulto que não come sachê? Normalmente não teve contato com esse alimento quando filhote”, esclarece Estela. “É fundamental que o filhote tenha em casa sua boquinha manipulada com frequência e se acostume com esse toque, ajudando na administração futura de medicações e até mesmo quando o veterinário precisará examiná-lo”, complementa ela.
13 – CASTRAÇÃO
A castração é uma medida de controle populacional bastante importante. Ela evita, por exemplo, o aumento de número de gatinhos nas ruas. “Aqueles que possuem vida livre tendem a sofrer com maus-tratos, serem atropelados, envenenados e também são mais suscetíveis a doenças infecto contagiosas como a Fiv e a FeLV”, detalha Alessandra. Mesmo para gatos sem acesso às ruas o procedimento é importante, pois ajuda a evitar doenças ligadas ao aparelho reprodutor dos bichanos.
Agradecemos a colaboração de Estela S. G. Pazos, Médica-veterinária pós-graduada em Medicina Felina. Atende exclusivamente gatos em São Paulo. Realiza atendimento nas áreas de clínica médica, comportamento, ozonioterapia, medicina preventiva e nutrologia e Alessandra Amarante Smith Maia, Médica-veterinária, formada em 2005 na UFMG. Tem pós-graduação em Medicina Felina e atua na área de medicina funcional e nutracêutica de felinos.