“Amassar o pão”: entenda este comportamento

“Amassar o pão”, “tocar pianinho” ou “fazer massagem”, seja qual for o nome que você utiliza para esse comportamento, todos os gateiros sabem exatamente do que estou querendo tratar neste artigo. Gatos movimentam suas patas alternadamente, expondo ligeiramente as garras em um movimento rítmico bastante característico de bem-estar e aceitação de aproximações. Alguns gatos são observados realizando este comportamento sem estar com as patas apoiadas em alguma superfície. No colo, quando é erguido ou está deitado com as patas livres após os limites de uma mesa de jantar, “amassa o pãozinho” sempre que visualiza um ser humano considerado pelo gato como um “afiliado preferencial”*.

Encontrando os porquês…
Existem algumas teorias para explicar a origem (ontogênese) de tal comportamento. A primeira refere-se obviamente ao comportamento que os neonatos exibem quando estão sugando as mamas de suas mães (biológicas ou adotivas permanentes/temporárias). Eles massageiam a região mamária e recebem, neste momento, o leite que gera uma plenitude de conforto. Na fase adulta, o comportamento acompanha exatamente as circunstâncias geradoras de conforto e tranquilidade. Outra teoria está concentrada na possibilidade de os movimentos das patas (comportamento) aumentarem a eliminação de secreções de glândulas especializadas desta região e, assim, potencializarem a demarcação/comunicação olfatória. E, finalmente, também poderia estar relacionado ao comportamento de preparação de superfície com folhas e outros elementos naturais para serem utilizados como “cama” ou “ninho”. Tais motivações acompanhadas da segurança e bem-estar poderiam justificar a exibição desse comportamento em nossos gatos domiciliados.
Bem, o mais importante é lembrar que alguns comportamentos descritos como espécie-específicos (ou seja, típicos dos gatos) são fortemente estabelecidos e não podem ser eliminados de uma hora para outra. Então, se o seu gatinho costuma “tocar pianinho” no seu colo, mantenha as unhas bem cortadas (leve-o a um profissional para executaro serviço!). Imagine a seguinte situação: o gatinho está imbuído de toda liberação de endorfinas na interação com você e no ambiente onde se sente calmo e confiante. Subitamente, uma das garras atravessa a calça jeans e fere sua pele. Em uma reação quase espontânea, você grita em um tom hostil e movimenta-se em rejeição à interação do gato. Nem vou discutir o que aconteceu com a pobre cabecinha do bichano. Quem ainda tiver dúvidas sobre o que passou pela cabeça do gato, envie um comentário e voltamos a discutir mais sobre esse assunto. Um forte abraço e saudações felinas para todos!

*Não afiliado: aquele que não faz parte do grupo social. Indivíduo que não tem permissão para acesso ao território do gato.
*Afiliado: Indivíduo que compartilha a maior parte do território com o nosso gato do exemplo. Normalmente compartilham interações mútuas como esfregar partes do corpo, lambedura, toques de focinho etc. Os afiliados poderão ser preferenciais ou não preferenciais, ou seja, poderão compartilhar de um modo mais franco e constante ou menos intensamente e respeitando limites de aproximação, embora coabitem o mesmo território.

Carlos Gabriel Almeida Dias
Médico veterinário (CRMV/RJ 4897)

Mestre e doutor em Ciências Veterinárias
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www.clinicaparagatos.blogspot.com