Gatinho novo em casa?

Confira dicas essenciais para garantir o bem-estar dele

Foto: YanaVasileva/iStock

O Felis catus, mais conhecido como gato doméstico, convive como Homem há pelo menos 10.000 anos. Ao longo da história foram tratados como deuses no antigo Egito (Deusa Bastet da fecundidade tinha a cabeça de gato e corpo humano), e odiados por sua suposta relação com o demônio na Idade Média, como mostram os registros de festivais na Bélgica e na França em que eram sacrificados, queimados ou mesmo jogados do alto da torre para morrerem. Nesta época, quase foram extintos, levando a um desequilíbrio ecológico com uma proliferação de ratos, contribuindo para a disseminação da peste negra em toda a Europa.
No mundo atual, com a rotina corrida do dia a dia, cada vez mais pessoas passaram a optar por um gato para chamar de seu, porém ainda há muitos mitos relacionados aos cuidados com os felinos. Ao contrário do que se pensava ao longo de décadas, mesmo parecendo autossuficientes, os gatos têm necessidades básicas que, na maioria das vezes, não conseguem ser supridas sem a dedicação de seus tutores. Nem só de água, ração e cochilos vive um gato. Quando optamos por ser responsável por um gato, devemos garantir a expressão de todos os seus comportamentos, de maneira controlada e guiada, ou então corremos o risco de ter um animal infeliz e, consequentemente, com maior probabilidade de problemas comportamentais. A interação e o compartilhamento do espaço doméstico nos aproximam, mas não coloca como parte do mesmo grupo o gato e o ser humano, pois somos completamente distintos. O entendimento de que não podemos humanizar as reações e emoções do felino é essencial para garantirmos a paz nesta “família” que se forma.

AMBIENTE IDEAL
Em primeiro lugar precisamos preparar o ambiente para recebermos o novo membro desta família. Gatos são animais desbravadores por natureza e o ideal é estimular este comportamento desde cedo com o uso de arranhadores, enriquecimento ambiental (ambiental, sensorial, alimentar, cognitivo, social), brinquedos e brincadeiras que estimulem a caça, sempre seguindo os três passos: tocaia, perseguição e ataque! A verticalização do ambiente também é muito importante. Os gatos têm hábitos arborícolas, portanto sentem-se mais seguros em locais altos, de onde podem observar todo o “seu território”. Coloque prateleiras, pontes e nichos nas paredes pelos quais ele possa se locomover e que também servirão como camas ou como um ponto de fuga, quando, por algum motivo, ele se sentir assustado. Animais com a possibilidade de se esconderem embaixo de camas e dentro de sofás tornam-se cada vez mais inseguros. Para os gatos filhotes, recomenda-se iniciar com alturas mais baixas e ir aumentando conforme o animal vai ganhando habilidade e confiança, para evitar acidentes.
Também devemos lembrar que os gatos são animais de hábitos crepusculares, que precisam constantemente praticar os atos de caçar e comer, escalar, arranhar, limpar e dormir. Estas ações não são simplesmente diversão e descanso, são necessidades básicas dos felinos, e qualquer alteração do ritmo desta rotina pode gerar problemas fisiológicos e comportamentais.
Outro hábito extremamente importante e que pode causar desconforto nos seres humanos é o arranhar. Dentro da rotina do felino o arranhar serve para marcação de território e liberação de feromônios, o que é importante na comunicação entre os animais, e ajuda na trocadas camadas das unhas. Portanto, se você não quer que o seu sofá novo seja destruído, é muito importante providenciar pontos específicos nos quais eles possam direcionar este hábito, como o uso de arranhadores, sisal, caixas de papelão etc.

Foto: dima_sidelnikov/iStock
Procure um veterinário assim que notar algo diferente em seu gato

ALIMENTAÇÃO E ÁGUA
Ao receber o animal em casa, além de garantir toda a sua sanidade (acompanhamento médico-veterinário, vermifugação e vacinas), devem ser priorizados seus hábitos naturais. Um gato na natureza caçaria entre 20 e 30 vezes ao dia, obtendo sucesso em aproximadamente 30% dessas tentativas. Isto explica a necessidade de comerem pequenas porções de alimento, várias vezes ao dia. Quanto menor a disponibilidade de alimento, maior a porção ingerida, por isso, o ideal é disponibilizar ração à vontade, deixando o animal escolher os horários de alimentação. Além disso, gatos saciam-se com pouco alimento, por isso comem várias vezes ao dia. Na natureza, os gatos obtêm a sua necessidade de ingestão hídrica através da água dos pequenos animais que caçam. Dentro de casa a ingestão fica prejudicada. Por isso, o animal deve ser sempre estimulado a hidratar-se. Coloque água disponível em pelo menos três lugares diferentes na casa, de preferência em fontes, garantindo água corrente e fresca o dia todo. O uso de alimentação úmida (os sachês) também é uma fonte extra de água. Já os filhotes, nas primeiras 36/48 horas após o parto, devem ser amamentados para que ingiram o colostro da mãe – substância muito importante para a imunidade dos felinos, pois é rica em imunoglobulinas. Gatos filhotes devem se alimentar somente do leite materno até, aproximadamente 25 a 30 dias. Nesta fase, poderá ser iniciado o processo de desmame, introduzindo uma alimentação pastosa específica para este período. Não deve ser oferecido leite, pois os felinos, em torno dos 30 dias, começam a diminuir a produção da lactase (enzima responsável pela digestão do leite) e pode ocorrer diarreia. Após alguns dias de adaptação, a ração sólida (seca) para filhotes pode ser oferecida até 1 ano de idade. Aos poucos pode-se fazer enriquecimento ambiental e esconder os alimentos pela casa. Primeiro em lugares de fácil acesso e depois pode-se dificultar a procura. No mercado existem tapetes interativos para ajudar neste processo. Assim você estará incentivando um comportamento natural do seu felino, o que o deixará mais feliz e aumentará o gasto energético, ajudando a evitar a obesidade.

HIGIENE
A limpeza é primordial para o instinto de sobrevivência dos gatos. Através dos banhos de língua, o animal afasta parasitas e se livra do cheiro das presas que caçou, evitando a aproximação de predadores. Esse ritual também reforça o seu próprio odor para ser reconhecido dentro do grupo ao qual pertence. Ele é tão importante que consome cerca de 50% do tempo do animal.

DESCANSO
O descanso é parte fundamental do comportamento felino. Ao contrário do que se pensa, estudos demonstram que os gatos de residência dormem aproximadamente 6% do tempo. Gatos, em geral, dormem por curtos períodos de tempo, em um sono leve, alternando, por vezes, um sono mais pesado, afinal, seu instinto de presa o faz com que fique sempre alerta. Assim, precisamos dar um local seguro para o seu descanso, permitindo que os momentos de sono profundo sejam proveitosos para a recuperação energética.
Filhotes gastam muita energia e, portanto, precisam de alimentação especial e mais horas de sono. Um gato adulto chega a dormir, em média, 15 horas por dia. Um gato filhote ou idoso pode chegar a dormir até 20 horas no dia.

CAIXA DE AREIA
Nunca deixe a alimentação perto do banheiro – evite colocar os potes de comida e água próximos às caixas de areia.
Sempre tenha um número de caixas de areia maior que o número de gatos. A recomendação mínima é sempre ter uma caixa de areia por gato + 1.
O local ideal para colocá-las é onde tem mais cheiro humano. Os gatos gostam de misturar o cheiro deles aos dos humanos já conhecidos. Elas devem ser limpas todos os dias. Uma caixa de areia suja pode fazer com que o seu gato comece a fazer xixi e cocô fora dela. Além disso, seu uso deve ser introduzido desde cedo. Gatos têm preferência em utilizar a caixa de areia e, uma vez que ela seja disponibilizada, ele a procurará para urinar e defecar.

SENSIBILIDADE FELINA
Gatos são sensíveis a barulhos altos. Eles têm a audição 4 vezes mais aguçada que a dos humanos. Os felinos são muito sensíveis ao toque. O momento do carinho ou da escovação pode ser muito estressante para o animal. Isto devido à presença, em várias partes do corpo, das células de Merkel muito próximas aos receptores nervosos. São as mesmas células que dão a sensação do tato nas pontas dos dedos dos humanos. As vibrissas (bigodes) fazem parte do tato. Permitem ao animal ter uma localização espacial mais acurada, compensando a visão limitada à curta distância. Os gatos enxergam bem de longe, mas em distâncias mais curtas dependem de outros sentidos complementares.

SOCIALIZAÇÃO
A fase ideal de socialização dos felinos é entre a 2ª e a 3ª semana de vida e a 16ª e a 24ª semana (4 a 6 meses) de vida. Este período, chamado de imprinting, é a fase de aprendizado, quando o desenvolvimento neurológico permite a melhor fixação das emoções e comportamentos, por isso é muito importante ensinar interações sociais, sempre reforçando o comportamento desejado de forma positiva; apresentar outras pessoas e animais bem devagar e cautelosamente, pois eles ainda não sabem lidar com o medo; ensinar a lidar com frustrações; promover os estímulos cognitivos, sociais, ambientais, sensoriais e alimentares; desenvolver a alimentação e criar vínculos afetivos.

SAÚDE BÁSICA
Todo animal (filhote ou não) deve ser levado ao médico-veterinário que, após avaliação, recomendará as vacinas ideais, uso de vermífugos adequados à rotina dele. No Brasil existem vacinas múltiplas e somente o médico-veterinário é habilitado para avaliar qual delas será necessária. A primovacinação é feita em 3 doses, a cada 21 ou 28 dias, dependendo da avaliação do veterinário. A desvermifugação deve ser realizada de acordo com os critérios da avaliação clínica do animal.

FIQUE ALERTA!
Felinos são predadores, mas também são presas, estão no meio da cadeia alimentar, por este motivo, demoram a demonstrar dor, fraqueza ou doença.
Você que é um novo tutor de felinos, fique atento! Respeitar as necessidades naturais e comportamentais é o início de uma convivência feliz e saudável com o seu gatinho de estimação.


Por Dra. Larissa Ligero Greve
Médica-veterinária da Clínica Veterinária –UNIP-Campinas -SWIFT. Aprimoramento em Animais Silvestres e atualmente especializando em comportamento animal. E-mail: [email protected]
Instagram: @veterinaria.unip.swift



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