A maioria dos gateiros com certeza acredita que a relação dos seus gatos com a água é mais de ódio do que de amor. Acertei? Os relatos de felinos que apreciam banhos e brincadeiras mais molhadas é bem menor que os que correm delas. Mas será que esses animais realmente não gostam de água? Por que alguns amam brincar com ela e até entram no box do banheiro enquanto seus donos tomam banho, e outros parecem ter aversão ao mínimo contato com o líquido? Para responder a essas e outras perguntas, nós, da revista Pulo do Gato, consultamos o professor Carlos C. Alberts, do Laboratório de Evolução e Etologia (LEvEtho) da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Assis-SP.
Segundo Carlos, que é especialista em comportamento de felinos silvestres e domésticos, existe uma má interpretação do ser humano em relação às reações que os felinos têm ao entrar em contato com a água. “Quando vemos o gato encostar levemente a pata na água e logo retirá-la, acreditamos que ele não gostou, pois é isso que o ser humano faz quando não gosta de algo”, aponta. Porém, o professor explica que essa reação está ligada a outro comportamento dos felinos: o de caça. “Para que os felinos possam caminhar e se aproximar de uma presa da forma mais silenciosa possível, esse animal possui, entre as almofadas plantares, pelos ultrassensíveis, pois são ligados a terminações nervosas”, diz. Isso permite que o gato – de forma inconsciente – reduza a velocidade do movimento da pata assim que esses pelos tocam em uma superfície, seja o solo ou a água. Portanto, quando o felino coloca a pata na água, esses pelos são “acionados”, todos de uma vez, causando confusão no animal e fazendo com que ele a retire rapidamente. “O gato geralmente balança a pata depois disso, para que a água que encharcou esses pelos escorra, e o ser humano logo interpreta que o felino não apreciou a experiência”, enfatiza.
Outro motivo que pode fazer com que o gato acabe por não gostar de água é o fato de que o próprio humano, ao pensar que gatos não gostam de água, não permite que o felino tenha contato progressivo com o líquido do ambiente. E pior, quando decide dar banho no gato, o faz de forma rápida e abrupta, causando desconforto ao bichano. “Com essa postura o animal passa a ter medo de água, de fato”, lamenta o professor.