FELINOS COMPANHEIROS: para pessoas de todas as idades e em quaisquer fases da vida.

Cegueira em gatos!

Seja você jovem, adulto, criança, casado ou solteiro, felinos são sempre boa companhia. Veja como eles melhoram nossa rotina.

Foto de Luidmila Kot por Pixabay

Muito se fala, principalmente aqui na revista Pulo do Gato, sobre cuidados que precisamos ter com nossos felinos nas diferentes fases da vida dele. Contudo, devemos nos lembrar de que eles também nos ajudam, e muito, em todas as etapas de nossas vidas.
Muitos pesquisadores se debruçam para desvendar os benefícios que a convivência com cães e gatos traz à saúde dos humanos, como baixos níveis de colesterol e pressão arterial. Nesta reportagem, fomos além da saúde e conversamos com gateiros de diferentes idades e fases da vida que compartilharam suas experiências sobre a contribuição dos felinos para deixar o dia a dia
mais leve e feliz. Você já parou para pensar em como seus gatos te ajudam em sua rotina? Caso não, esta é uma boa oportunidade!

Crianças e gatos: Melhores amigos

Victória, de 4 anos, e o gato Logan, de 3 anos, são inseparáveis – Foto Silvia Letícia Fabris

A fotógrafa e zootecnista Silvia Letícia Fabris, de 40 anos, de Curitiba-PR, sempre sonhou em criar sua filha, Victória, hoje com 4 anos, em meio aos bichanos. E conseguiu! “Minha filha é super carinhosa, cuidadosa, amorosa e responsável! O mais importante na convivência entre animais e crianças é que criamos pessoas mais humanas, que respeitam todo tipo de vida”, opina Silvia. Cláudia Terzian, adestradora da Cão Cidadão especializada em felinos, concorda com a fotógrafa e acrescenta que convivendo com bichos, as crianças também aprendem valores como empatia e respeito à diversidade das formas de vida. “Há psicólogos que incentivavam as crianças a fazerem confidências aos seus pets como forma de trabalhar traumas ou medos infantis”, diz.
A adestradora lembra que para que a relação seja harmoniosa, é importante que haja sempre supervisão de um adulto, assim o pet lover mirim aprenderá a forma correta de interagir com os gatos, sem puxões ou carinhos bruscos demais, por exemplo. Silvia, semprezelou pela educação da filha e pelo estabelecimento de uma boa relação entre ela e os três gatos da casa: os irmãos Logan e Luke, ambos de 3 anos, e Shiva, de 12 anos, um Siamês bolinha que é o ranzinza da trupe. Assim, Silvia delega tarefas como ajudar a dar comida, trocar água etc., para sua filha. “Procuro sempre explicar que eles são bebês, que têm seu espaço e que precisam ser respeitados”, ressalta. Ela ainda conta que quando Logan tem seus ataques de carência, a pequena Victória é a primeira a ir fazer a sessão de carinhos! “Os dois não se desgrudam nunca, onde um está, o outro está também.”

Na saúde e na doença

A gata Bibi fi cou ao lado de
Henrique durante sua recuperação – Arquivo de Sonia Blanco

A Ciência já comprovou vários benefícios de ter um animal de estimação. “Crianças que vivem desde o nascimento em residências com gatos são bem menos propensas a alergias, pois seu sistema imunológico é fortalecido”, ressalta Cláudia. A artesã Sonia Blanco, de São Bernardo do Campo-SP, que o diga. Ela teve a ajuda de suas três gatas, Lua e Jade, ambas de 15 anos, e Manuela, de 14 anos, na recuperação de seu filho Henrique, que ficou internado em unidade de terapia intensiva (UTI) quando ainda era bebê por ter aspirado o líquido do refluxo. “Elas foram as grandes companheiras dele. Dormiam sempre juntos”, afirma. Até hoje Lua dorme no quarto com Henrique, que está com 10 anos de idade e supersaudável. Bibi, de 3 anos, é a predileta do menino. Ele ajudou no resgate da mãe da gata e ficou com ela. “Ele ia comigo todos os dias dar comida até que fez amizade com a felina. Chegamos a ficar no sol por mais de hora, o Henrique imóvel, sentado na caixa de transporte, aguardando a gata entrar para ele fechar a porta”, se orgulha a mãe, que também possui cinco Pugs e dois Chihuahuas. “Henrique ama e respeita cães e gatos, para ele não tem diferença.”

Gatos na terceira idade

Issa Mansour com Charlotte nos braços. No detalhe, Billy
(pretinho) e Mel – Foto arquivo pessoal

Depois de criar os filhos e trabalhar por longos anos, aposentados, muitas vezes, ficam solitários e com o sentimento de que não são mais úteis para ninguém. Muitos até são abandonados pela família e acabam encontrando reconforto, amor e amizade nos pets. Nesses casos, ter gatos é uma forma de dar novo sentido à vida. “Os gatos podem ter especial valor para quem tem carência de afeto, quem se sente só, ou mesmo quem está doente, diminuindo a chance de a pessoa se tornar depressiva”, diz Cláudia. A adestradora orienta que, ao escolher um pet para gateiros mais velhos, é preciso levar em conta alguns fatores, como a disposição para educar um filhote. “Um gato adulto, dócil, pacato e carinhoso é uma boa escolha para uma pessoa com mais de 70 anos ou que tenha dificuldade de locomoção”, exemplifica.
O engenheiro mecânico Issa Mansour, de 66 anos, de Campinas-SP, tem gatos há mais de 10 anos, mas após ter se aposentado, os bichanos se tornaram mais do que pets, são seus companheiros fiéis do dia a dia. “Nem durmo mais na cama de meu quarto com minha esposa, pois não cabem todos juntos lá. Vou para o quarto do meu filho, que se casou e foi embora há 3 anos”, brinca. Tutor de Billy, gato preto de 11 anos, Mel, gatinha tigrada de 12 anos, e da recém-chegada Charlotte, de 2 anos, Issa tem a companhia de seus felinos em suas atividades diárias. “Quando estou lendo, sempre tem um gato deitado ao meu lado. Ao assistir à televisão, os gatos se aconchegam em meu colo. Se vou à piscina, eles ficam por perto. Aonde quer que eu vá, eles estão sempre comigo”, conta, ao ressaltar que Charlotte é a mais “carente” e a que exige mais afeto e colo. “Ela me ama e me segue por todo lado”, diz, orgulhoso. Mimar seus felinos e cuidar do bem-estar deles sempre foi prioridade para o aposentado, mas agora, com tempo livre e sem os filhos humanos para cuidar, ele consegue desfrutar ainda mais dos benefícios de ter gatos. “Eles me arrancam sorrisos e risadas logo cedo. Meu sonho era ter um espaço maior para cuidar de muitos mais bichos em minha aposentadoria”, finaliza.

Juventude gateira

Daniel Felipe e Cup Cat, um entre os 20 felinos da casa: na
escola todos perguntam como é ter tantos gatos – Foto arquivo pessoal

Gatos são ótimos companheiros para adolescentes porque têm muitas afinidades com essa fase da vida humana: não obedecem, querem ser independentes, mas ao mesmo tempo, têm grande vínculo afetivo com os pais. Brincadeiras à parte, Cláudia ressalta que adolescentes que possuem cães e gatos em casa têm, em média, maior autoestima, são mais otimistas, mais populares na escola e menos obesos que adolescentes que não os possuem. “Além de facilitadores sociais, os pets são parceiros para as horas de tristeza ou dificuldades típicas dessa fase, pois os ajuda a lidar com a dor e a ansiedade”, acrescenta. Aliás, na adolescência, a supervisão dos pais no trato com o pet é dispensada, mas Cláudia ressalta a importância de eles delegarem tarefas ao jovem, de forma clara e com horário fixo. “Não são todos os adolescentes que conseguem lidar com a rotina de cuidados que um animal exige. O gato requer pouco trabalho diário quando comparado ao cão, mas o adolescente não deve se esquecer de trocar ou completar a água do pote ou de limpar a caixa sanitária na frequência adequada, por exemplo”, ressalta.
Daniel Felipe, de Cascavel-PR, tem 11 anos e convive com gatos desde que se conhece por gente. Como sua mãe é veterinária e tem um gatil, possui 20 gatos em casa. Dentre eles, os que são mais próximos de Daniel são Cup Cat, um American Curl de 2 anos, Noah, SRD de 1 ano, Mingau, um British Shorthair de 7 anos, Gucci, um British Longhair de 2 anos, Petit Gateau, um Exótico de 5 meses, os Scottish Folds Bill, de 7 anos, e Kelquithas, de 1 ano, e Happy, um Scottish Straight de 1 ano. “Não consigo imaginar minha vida sem meus gatos. Eles me alegram, estão sempre comigo”, diz Daniel, que ajuda sua mãe com as tarefas cotidianas do gatil. “Ajudo na limpeza, troco comida e água e me preocupo com eles quando chove, corro para fechar janelas e não permitir que se molhem. Trato deles como se fossem minha família”, compara Daniel, que também diz ser mais popular na escola por ter tantos gatos. “Todo mundo quer saber como é ter gatos, ainda mais na quantidade que eu tenho.” A mãe de Daniel, Ana Cláudia, conta que ele se preocupa muito com o bem-estar dos felinos. Certa vez, seu filho a chamou para retirar uma lesma que estava do lado de fora do gatil. “Como estava ocupada, demorei um pouco para ir. Ele voltou muito bravo e com os olhos cheios de lágrimas e me deu uma bronca: ‘Você não se preocupa com seus gatos?’”, conta.

Maturidade Felina

Persa Nicky de Rosangela M.
Garcia Salatiel

Na idade adulta, gatos podem nos ajudar em inúmeras situações. “Parece óbvio, mas é preciso gostar e saber cuidar deles”, complementa Cláudia. A advogada Rosangela M. Garcia Salatiel, de 50 anos, de São Bernardo do Campo-SP, apesar de ser gateira e ter três peludas, a SRD Amora, de 1 ano e 2 meses, e as Persas Nikita, de 1 ano e 8 meses e Milly, de 1 ano e 6 meses, ela odiava gatos. “Ficava muito irritada com a gatinha Siamês bolinha da minha filha, que fazia xixi atrás da estante, e com outro gato da vizinha, que entrava em minha casa e fazia a maior bagunça”, relembra. Hoje, ela ajuda ONGs e faz até resgates de animais abandonados. A própria Amora foi resgata por ela juntamente com mais sete filhotes em situação de abandono. “Hoje, a minha convivência com gatos é tão imprescindível quanto o ar que respiro. Não sei mais viver sem a companhia deles”, conta a advogada, que pretende começar a fabricar e doar cadeiras de rodas para gatos com dificuldade de locomoção. “Sinto que após conviver com gatos me tornei uma pessoa melhor, mais paciente, mais amorosa, menos nervosa.”

Persa Milly de Rosangela M.
Garcia Salatiel
Doug e Fernanda

Já a contadora Fernanda de Almeida Souza Santana, de 25 anos, de Timóteo-MG, foi privada da convivência com gatos por uma rinite alérgica, da qual sofre desde criança. Ela nunca teve gatos, pois os médicos diziam que ter bichos pioraria sua condição. Sobrevivendo à base de antialérgicos, Fernanda acreditava que seu problema não tivesse cura. “Mesmo sendo louca para ter um gatinho desde muito nova, aceitei que a alergia era algo que fazia parte da minha vida e era inevitável”, conta. Entretanto, em 2015, já casada, resolveu quebrar todas as regras e adotar um gatinho. “Já que é para espirrar, deixa eu espirrar feliz! Isso não tem cura mesmo”, pensou a contadora na época em que Doug, de 1 ano e 6 meses, chegou a seu lar. “Milagrosamente, desde o primeiro dia de sua adoção, eu parei de espirrar”, revela. Animada com seu bom estado de saúde ao lado do gatinho, não hesitou em adotar Mia, de 1 ano, pouco tempo depois. “Pensei que estava salvando meus gatos quando os adotei, mas na verdade, foram eles que me salvaram”, desabafa. E olha que seus gatinhos circulam pela casa toda e até dormem na cama com ela. “Tanto eu quanto meu esposo nos divertimos com eles. Rimos muito das travessuras e nos impressionamos a cada novidade que surge todos os dias.”
Ao voltar em sua médica 6 meses após a adoção de Doug e sem nenhuma crise alérgica, a especialista ficou surpresa ao constatar a ausência de irritação na região dos olhos, do nariz, da garganta e dos ouvido. “Ela me explicou que essa cura da minha alergia estava ligada ao lado emocional. Meus gatos preencheram uma parte que faltava em mim. Eles mudaram a minha vida, alegraram minha casa e curaram minha alergia. Impossível ser mais feliz do que sou hoje”, finaliza.

Casais com gatos são mais felizes

Ana Luiza Gurgel e o Scottish Fold Johnnie Walker (à dir.) e
seu marido, Marcello, com a British Longhair Bella, têm uma
vida mais leve e animada – Arquivo pessoal

Quando o assunto é casamento, a exigência que o gateiro tem é que a outra pessoa também goste de gatos, certo? No caso da advogada Ana Luiza Gurgel, de Salvador, casada há 10 anos com o também advogado Marcello, foi ele quem insistiu para que seus dois filhos gatos fizessem parte da família: o Scottish Fold Johnnie Walker, de 2 anos e 5 meses, e Bella, uma British Longhair, de 3 anos. “Eu nunca quis ter qualquer animal de estimação, pois, como não temos filhos, viajamos muito. Após alguns anos de insistência, meu marido conseguiu me convencer”, conta Ana Luiza. Hoje, ela é completamente apaixonada por gatos. E o casal, ambos gateiros de primeira viagem, aprendeu as responsabilidades de ser tutor de gatos e divide, com prazer, as tarefas de cuidados diários. “Eu gosto de levantar bem cedinho para poder penteá-los, limpar os olhos quando necessário, fazer carinho, brincar etc. Meu marido limpa as caixinhas de areia todos os dias e também enche os dois de carinho logo pela manhã”, descreve Ana Luiza. A tutora também relata que sentiu uma união mais forte entre ela e Marcello por serem responsáveis pelo bem-estar e saúde desses dois filhos não humanos. “Acho que também nos tornamos, de alguma forma, mais pacientes, tolerantes e generosos por causa deles”, completa. Com a chegada dos gatos, Ana Luiza também constatou que assistem menos à televisão. “Dedicamos mais tempo para brincar com eles ou simplesmente fazer carinho.” Os tutores também são alegrados pela presença dos bichanos quando trabalham em casa. Em outras situações, têm mais pressa para chegar ao lar e encontrar os pequeninos. “A primeira coisa que fazemos ao entrar é procurar pelos gatos, pois eles sempre arrumam um novo lugar e uma posição engraçada para dormir”, se diverte.
Como todo casal, a dupla tem opiniões divergentes sobre os gatos dormirem na cama. Ana Luiza era absolutamente contra no início, mas foi cedendo e hoje basta ligar o ar-condicionado para os gatos assumirem suas posições no quarto. “Quando queremos ter uma noite mais tranquila de sono, chegamos ao consenso de que é melhor que os dois gatos fiquem para fora do quarto”, diz, já que todo bichano pede para seus tutores abrirem a porta algumas vezes na madrugada. Geralmente, quando têm um impasse na decisão, Marcello decide sobre Bella e Ana Luiza sobre Johnnie, pois cada felino é um pouco mais apegado a um dos donos. “A casa fica mais divertida e animada com os nossos gatinhos! Eles trazem leveza para as nossas vidas”, se derrete Ana Luiza, que até virou vegetariana e faz resgates de gatos de rua após a convivência com seus animais. “Fiquei mais sensível”, conclui.

Solteira sim, sozinha não!

Felinos se adaptam bem à vida agitada das pessoas solteiras. Na correria diária da estudante de Engenharia Civil Cristina Aparecida Benelle, de Toledo-PR, de 34 anos, os ronrons de Mya, sua Scottish Straight de 3 anos, são a recompensa após um dia cheio e cansativo. “Minha gatinha é extremamente carinhosa, atenciosa e inteligente. Creio que ela melhora meu dia fazendo o que os gatos fazem melhor: ronronar e transmitir tranquilidade”, ressalta.

A gatinha Mya ronrona para recompensar Cristina
após um dia cansativo – Arquivo de Cristina Aparecida Benelle

Cristina, que tem gatos desde a infância pois seu pai sempre gostou de felinos, já teve três Persas, um American Curl e incontáveis vira-latinhas. “Gatos sempre foram minha paixão, eles são misteriosos, sinceros, independentes e ao mesmo tempo dependentes!”, declara.
Cristina mora com sua mãe e passa as noites com Mya. “Quando vou dormir, ela sobe na cama, pede carinho, desce, e retorna logo em seguida”, conta. Se a dona levanta na madrugada, a gatinha vai junto, e ao retornar para a cama, exige seu cafuné. Ao acordar, o ritual é o mesmo. “Ela só levanta depois de um beijinho de bom dia.” Entre os namorados, Cristina lembra que apenas um teve problema com os gatos. Era alérgico e espirrava quando tinha contato com os pelos dos felinos. “Mas mesmo assim, vivia com eles no colo”, revela.

Reportagem realizada por Samia Malas


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