Gatos sempre brincam. Quando não estão dormindo, comendo, eliminando ou apreciando a paisagem através da janela ou de outro ponto elevado nos nossos lares, estão sempre brincando. Efusivas, súbitas, discretas ou desastradas, as brincadeiras são necessárias aos gatos. Mesmo sendo uma observação rotineira dos admiradores dos
gatos domésticos, é necessário e possível acompanhar corretamente o comportamento e dedicar alguns minutos para entendermos as formas satisfatórias de estimular os gatos, manter o interesse pelos objetos, móveis e ambientes disponíveis para as brincadeiras e, ainda, reafirmar a importância da prevenção das consequências adversas na utilização equivocada desses elementos. Brincar com objetos inadequados ou manter uma interação sem privilegiar as características comportamentais dos gatos pode gerar saldos bastante indesejáveis.
Como são as brincadeiras de gato?
Os
filhotes de gatos brincam a fim de explorarem o ambiente onde estão sendo mantidos;
sociabilizarem-se com animais não humanos e humanos que lhe são apresentados, além de exercitarem as habilidades que serão necessárias para caçar suas presas, fuga de situações adversas, interações entre espécies específicas, etc. Estudos realizados, aliados às observações caseiras diárias, permitem o estabelecimento de algumas condutas que garantem a saúde comportamental dos nossos amigos felinos. Quando não estão sob os cuidados diretos de seres humanos, os
gatos filhotes gradativamente aumentam suas interações com suas mães, irmãos de ninhadas e objetos existentes no interior do ninho. À medida que alcançam a maturidade motora e cognitiva, aumentam também a frequência e complexidade dessas interações na forma de
brincadeiras de gatos.
Essas
brincadeiras do gato tornam-se cada vez mais elaboradas e transformam-se em ensaios das habilidades que serão necessárias quando forem adultos. Na fase adulta, os gatos executam o que treinaram na forma de brincadeiras, ainda que gatos adultos e que vivem independentes de cuidados humanos também brinquem. Quando mantemos esses animais em nosso convívio, fornecemos segurança, alimento e remoção da excreta do ambiente. Tais condições de manejo, é claro, variam enormemente nas diferentes residências. Mas, poupamos os gatos de caçarem seu alimento, por exemplo. Assumimos, então, o papel das mães e mantemos os gatos como filhotes no ninho. Os
gatos domésticos mantidos em nossas casas não caçam, eles caminham para o potinho de ração que está sempre no mesmo local. Trocando em miúdos, tendemos a prolongar as brincadeiras como um exercício das habilidades e não como uma prática predatória. Mas, eles precisam exercitar a brincadeira. A ausência ou a má utilização desta vontade de brincar favorece uma vida ociosa. Os gatos sempre vão brincar, sempre!
Estímulo na medida certa
Gatos obesos, idosos, mantidos em espaços muito reduzidos, superpopulosos, com limitações físicas brincam menos. Quando não possuem muitas alternativas ou estímulos de intensidade adequados, mantemos os animais em um ambiente pouco favorável, ou como os pesquisadores costumam dizer atualmente: um ambiente pouco enriquecido. O que isso significa? Enriquecer o ambiente onde os gatos vivem não significa oferecer ração, brinquedos e móveis caros. Não! Enriquecemos o ambiente proporcionando um ambiente interativo e agradável. Um local onde o animal vive de maneira tranquila, sem ansiedade e frustração. Simplesmente oferecer
brinquedos para gatos não basta, temos que renová-los frequentemente para evitar que se tornem menos atrativo-estimulantes/novidades.
Oferecer continuamente 10 brinquedos para gato intensamente coloridos e aparentemente divertidos não é melhor do que disponibilizar 2 a cada semana e depois guardá-los para que sejam sempre novidades. Mas atenção! Alguns objetos utilizados normalmente como brinquedos podem representar um importante risco para os gatos. Tiras de tecidos, barbantes, cordões e objetos francamente lineares não devem ser utilizados como estímulo de brincadeiras. Esses elementos potencializam a chance de serem ingeridos e causarem distúrbios gastrintestinais bastante agressivos e, eventualmente, fatais.
E, por último, outro exemplo interessante: casinhas, toquinhas e iglus são sempre motivadores de brincadeiras ou são perfeitos esconderijos para os gatos. Mas, que tal evitar disputas oferecendo um número de casinhas em acordo com o número de gatos acrescido de uma adicional. E ainda, colocar as casinhas em um local protegido, evitando ser acidentalmente chutado ou investigado por outros gatos ou até cães residentes? Uma boa dica é virar as entradas de algumas das casinhas para a parede para aqueles que preferem um momento de isolamento maior. Pensar com a cabeça dos gatos é a melhor forma de descrever o que parcialmente significa enriquecimento ambiental para eles. Importante: não se esqueçam que toda mudança deve ser bem gradativa para evitar ansiedade nos gatos, principalmente àqueles que vivem em grandes grupos como gatis e abrigos!
Carlos Gabriel Almeida Dias
Médico veterinário (CRMV/RJ 4897)
www.clinicaparagatos.blogspot.com