Nos dias de hoje é muito raro encontrarmos uma pessoa que não tenha conta em pelo menos uma rede social. Facebook, Twitter e Flickr, entre tantas outras, são ferramentas muito úteis para mantermos contato com amigos distantes, conhecermos pessoas e compartilharmos experiências. Claro que tudo tem seus prós e contras. Ao mesmo tempo em que os gatos têm tido sua popularidade aumentada a cada dia (pelo que nós, gateiros, somos muito gratos), também cresce o número de curiosos e “entendidos” que acham que podem dar orientações médicas pela internet.
Pelos grupos que eu tenho no Facebook vejo esse tipo de situação com muita frequência, uma pessoa publica um caso que está acontecendo com algum de seus animais e pergunta o que pode ser aquilo e o que fazer a respeito. Em questão de segundos, chovem mensagens de todo tipo, desde aquelas sensatas que orientam a procurar um profissional médico veterinário, até aquelas pessoas que afirmam já terem passado pela mesma situação com seu animal e passam todo o tratamento para a suposta patologia.
Em primeiro lugar, esse tipo de atitude é contra a lei. Chama-se “exercício ilegal da profissão”. Uma pessoa sem registro no Conselho Regional de Medicina Veterinária não pode prescrever medicações de nenhum tipo, para nenhum animal. E nesse meio vemos de tudo. Pessoas vacinando e assinando a carteira do cachorro ou gato do vizinho, receitas de remédios caseiros da avó, pessoas envolvidas com proteção, auxiliares, tosadores atuando como veterinários. A lista é grande. Em segundo lugar, nenhum diagnóstico pode ser fechado pela internet, mesmo com fotos, vídeos, áudios. O animal precisa sempre ser avaliado pelo especialista, já que só ele tem o conhecimento necessário para indicar e analisar exames a fim de prescrever o tratamento adequado. Em terceiro lugar, passar medicações é algo muito sério e que pode matar um animal.
Saiba filtrar as informações
O que eu vejo muitas vezes nessas publicações em que as pessoas pedem ajuda com algum problema de seu animalzinho é que o argumento é sempre o mesmo: “não tenho dinheiro para levar meu gato ao veterinário agora. Só quero uma ajudinha”. A grande questão é que uma ajudinha pela internet pode até ser útil, mas é uma cartada de sorte. Em grande parte das vezes, essa “ajudinha” acaba saindo bem mais cara do que a consulta seria inicialmente. Mesmo pessoas que convivem há muito tempo com animais e visitam consultórios veterinários com frequência não podem dar orientações, principalmente online. Muitas perguntas são feitas durante a consulta, muitos detalhes são observados no animal, precisamos ver, tocar, ouvir, cheirar, juntar informações, fazer exames. O que eu costumo dizer quando alguém afirma que determinada alteração é esta ou aquela doença é que, como diz o ditado, nem tudo que reluz é ouro. Nem todo gato que espirra está com rinotraqueíte, nem toda lesão de pele é esporotricose, nem toda diarreia é verminose e nem todo animal com as fezes normais está livre de parasitas intestinais.
Por outro lado, a pesquisa na internet é sempre válida. O mais importante é saber filtrar as informações. Alguns dos meus clientes chegam ao consultório em pânico achando que seu animal está com uma doença gravíssima e que vai morrer, porque eles viram na internet que aqueles sinais clínicos poderiam ser dessa enfermidade. Assim, a primeira tarefa que tenho é acalmá-los. Geralmente o animal está até animado, ou está muito nervoso e se esconde no consultório, mas a princípio não tem nada de tão grave. Quando os tutores se acalmam, é a hora de buscar a história desde o começo, ouvir tudo, saber o que leram na internet e então partir para o exame físico do animal. Após tudo isso, eu sento, explico o que observei na avaliação inicial e, na maioria das vezes, tenho a felicidade de tirar o peso das costas das pessoas dizendo que seu animalzinho provavelmente não vai morrer dessa doença terrível. Também recebo aqueles que não têm a menor ideia de nada sobre o animal, sobre comportamento, alimentação, higiene, prevenção de doenças, vermifugação, vacinação, etc. A pessoa às vezes tem o animal há anos e nunca vacinou. Nessas horas, talvez fosse válido fazer uma boa pesquisa na internet, perguntar aos colegas nas redes sociais e seguir orientações básicas. Há, ainda, aqueles que levam seu animal ao veterinário e só depois fazem a pesquisa na internet para buscar informações sobre a doença que foi diagnosticada. Pessoalmente, eu acho fantástico. Gosto quando meus clientes se interessam e levam dúvidas para a revisão. Eu sempre faço o possível para esclarecer ao máximo todas as dúvidas dos clientes, mas às vezes, após ler sobre o assunto, surgem outras questões. Isso é o que enriquece o atendimento.
As redes sociais também são muito úteis quando o tutor precisa de uma indicação de profissional. E aí começam as trocas de informações sobre quem são os veterinários de confiança de cada pessoa, onde atendem, qual horário, etc. Com essas indicações, o cliente leva seu animal a um profissional que já tem boas referências, o que aumenta a confiança, melhora o relacionamento do veterinário com o tutor e colabora com a saúde do animal.
A internet diminuiu distâncias, acelerou o tempo, multiplicou informações, facilitou a vida imensamente. A maioria de nós, hoje, não saberia viver sem internet. Muitas empresas avaliam o perfil do profissional no Facebook antes de contratá-lo. Mas mesmo com todas essas vantagens, a saúde dos nossos filhos peludos precisa ser levada muito a sério e avaliada por um médico veterinário pessoalmente. Meu conselho? Aprecie as informações da internet com moderação.