Dia a dia

Assim começa o dia de um protetor de animais. Ele tem que madrugar para cuidar de todos os animais que estão sob sua proteção e que não conseguiram ser doados: são os idosos, doentes, especiais, ou seja, os que foram rejeitados pela sociedade. Depois de passar horas limpando, alimentando e medicando, o protetor finalmente liga o computador para ler as mensagens, com a esperança que perguntem sobre a turma que ele tem para doar. Felizmente, sempre tem alguém interessado nos cães ou gatos e também muitas, muitas pessoas pedindo ajuda: “Você pode recolher o gato que foi atropelado na minha rua? Você pode abrigar os animais que estão em um terreno baldio? Por favor, me ajude com um caso grave de maus-tratos.” Nesta hora tem início a sensação de medo e impotência que acompanha o protetor durante todo o seu dia. Os apelos são muitos e ele sabe de suas limitações. Mas, apesar dos problemas, ele precisa ir cuidar da turma (cada vez maior) de animais que tem para doar. São animais resgatados em péssimas condições ou que estavam correndo perigo de morte, muitos deles adultos e doentes. Sair de casa se tornou uma agonia, pois o protetor vê, cada vez com mais frequência, muitos animais abandonados pelo caminho e não tem como ajudá-los. Se ele não estabelecer um limite, não haverá como cuidar dos que já estão sob sua responsabilidade.
À tarde, ele volta para o computador para responder aos pedidos de adoção e receber notícias dos animais que já foram encaminhados. É sempre muito difícil ler o tempo todo sobre abandono e crueldades contra os animais e ter que confiar em quem vai adotar seu protegido. Isto é um exercício de superação, mas enfim, ele precisa confiar nas pessoas. A doação é o objetivo de seu trabalho, é o que o motiva a continuar nesta luta. Mas, muitas vezes a doação não dá certo e as causas podem ser as mais absurdas: ou o gato não mia nunca ou ele mia demais. O motivo é sempre a falta de perseverança das pessoas que, diante da menor dificuldade, desistem de tentar. Esta é uma das maiores tristezas para o protetor: colocar o animal que já estava se habituando a uma casa, a uma família, de volta em um abrigo. A maioria dos animais adoece ou entra em depressão. No final da tarde, outra sessão de limpeza, alimentação e medicação. À noite, exausto, o protetor consegue dormir em paz, aquele sono pesado e gratificante de quem batalhou o dia todo. Ele só perde o sono quando as dívidas nas clínicas veterinárias e nas casas de ração excedem o seu limite mensal. Aí começa outra batalha, a de levantar dinheiro para saldar seus compromissos. O certo é que o tempo todo o protetor de animais oscila com altos e baixos, com notícias boas e ruins e com vitórias e derrotas. Diante disto tudo, o que o faz continuar? Apenas uma coisa: o olhar de gratidão de um animal desesperado e sem saída. Alguns protetores piram, outros desistem, eu escrevo…

 
Maria Augusta Toledo –

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