O envelhecimento é um processo inevitável e irreversível, contudo, o estado débil atribuído muitas vezes ao gato geriátrico na realidade pode estar relacionado a uma doença que pode ser corrigida ou pelo menos tratada pelo médico veterinário.
O ciclo de vida do gato pode ser dividido em quatro estágios: filhotes, adultos, idosos e geriátricos – após os 12 anos de idade.
Hoje, os gatos são favorecidos pelos programas de vacinação, dietas mais adequadas para a faixa etária e de prescrição (de acordo com as enfermidades), além da evolução das técnicas para obtenção de um melhor diagnóstico.
Se estimarmos em 15 anos a longevidade média de um gato, ele atingirá o último terço de vida ao redor dos 10 anos de idade, o que corresponde a uma definição comum de envelhecimento, qualquer que seja a espécie envolvida. Neste estágio, geralmente, aparecem sinais que chamam a atenção dos proprietários: falta de dinamismo, sonolência, alteração do pelo.
Uma alimentação apropriada e de qualidade permite combater os fenômenos patológicos e fisiológicos ligados ao envelhecimento, mantém o peso do gato em seu nível ideal e contribui para a prevenção de problemas urinários.
O conhecimento da influência do envelhecimento em cada um dos sistemas orgânicos aumenta a capacidade de criar critérios para os meios de diagnósticos, planejar programas de prevenção de doenças e instituir terapias adequadas.
Os gatos idosos e geriátricos são mais sedentários, menos enérgicos, menos curiosos, mais restritos em suas atividades e menos tolerantes ao calor ou frio extremo. Eles procuram locais confortáveis e aquecidos e dormem por longos períodos. Os pelos apresentam-se embolados, secos e sem brilho, visto que os gatos idosos costumam perder o interesse de se lamberem. Quando manipulados, são mais fáceis de irritar.
Muitas das mudanças comportamentais ocorrem pelas alterações nos órgãos dos sentidos: diminuição da audição, da visão e do olfato. As unhas são um pouco desgastadas e é comum vê-las introduzidas nos coxins. Eles apresentam dores articulares de forma insidiosa em função de doenças degenerativas das articulações e é notória a presença de fraqueza e perda de tônus muscular, principalmente nos membros. Tudo isso faz com que os gatos restrinjam sua atividade e habilidade para participar da vida familiar. Muitos ficam tão carentes com o afastamento que começam um processo de lambedura compulsiva, levando a áreas extensas de alopecia, ou iniciam um distúrbio de eliminação de urina ou fezes em locais inapropriados.
Viagens são pouco toleradas pelos gatos idosos. Tais gatos se alimentam pouco ou ficam anoréxicos, ou seja, ingerem pouquíssima quantidade de alimentos, ficam muito ansiosos e dormem pouco. É melhor deixá-los em casa sob os cuidados de algum familiar.
Constipação é um dos problemas frequentes do gato idoso. Os fatores de risco são: falta de exercício, retenção fecal voluntária, dieta inapropriada, dor por impactação da glândula adanal, redução da motilidade e fraqueza da musculatura intestinal. As fezes se apresentam mais ressecadas e endurecidas.
Doenças periodontais levam a processos extremamente dolorosos e fazem com que os gatos recusem o alimento. A perda de peso é um problema sério no gato idoso e deve-se investigar se é causada por problemas dentários, endócrinos, afecções de má absorção e/ou a uma percepção mais fraca dos odores e sabores dos alimentos.
O gato é por natureza um grande consumidor de proteínas, não há razão alguma para reduzir drasticamente o fornecimento proteico quando ele envelhece. Esta restrição poderia ser prejudicial à sua saúde. Por um lado a restrição proteica não permite retardar o envelhecimento do rim, por outro aconselha-se uma diminuição de fósforo na dieta. Com esta medida pode-se esperar um retardamento do declínio da função renal.
Com consequência de um aumento na expectativa de vida do gato, observamos cada vez mais as doenças crônicas. As doenças encontradas com maior frequência em gatos idosos são em ordem decrescente de importância: 1) insuficiência renal crônica; 2) problemas dentários; 3) tumores (adenoma funcional da glândula tireoide, acarretando em hipertireoidismo); 4) degenerações ósseas e musculares; 5) doenças cardiovasculares e 6) diabetes mellitus.
O programa preventivo de saúde para o gato idoso deve ser iniciado a partir da faixa etária de 7 a 11 anos de idade e deve continuar por toda a sua vida. Esse programa tem sido recomendado pela Associação Americana de Clínicos Especialistas em Felinos e pela Academia de Medicina Felina, em 2005, em um painel para reportar os cuidados com o paciente felino idoso.
Mesmo que o gato não apresente nenhum tipo de doença, ainda assim ele deverá aderir ao programa preventivo de saúde que deve constar de: avaliação completa da história médica pregressa e do comportamento do animal, exame físico completo (peso, temperatura, pulso, frequência respiratória e cardíaca, coloração da membrana de mucosa e tempo de preenchimento capilar, estado de hidratação). Isso ajuda a estabelecer o que está normal e detectar o mais cedo possível a existência de qualquer tipo de problema.
Dra. Heloisa Justen e Dra. Simone Cunha, médicas veterinárias especialistas em felinos da Clínica Gatos e Gatos.
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