Na Tailândia, ele se destaca há séculos pela beleza de sua pelagem azul e pelo grande afeto que sente por sua família.
A brilhante pelagem azul e estonteante beleza do Korat são elementos que atraem a atenção dos humanos há séculos. A raça é uma das descritas no famoso livro The Cat-Book Poems, redigido por monges entre 1350-1767. A publicação apresenta os 17 gatos símbolos de boa sorte no reino de Sião (atual Tailândia), dentre os quais também está incluso o Siamês. Encontrado originalmente na província de Korat, o felino é conhecido na cultura tailandesa por trazer prosperidade, saúde e amor. A cor de seus pelos, semelhante à prata e às nuvens de chuva, representa riqueza para os comerciantes e agricultores. Já os olhos verdes indicam boas colheitas.
Outra característica única da raça é possuir os desenhos de cinco corações espalhados pelo corpo, que podem ser vistos por meio de linhas imaginárias. Na cabeça há três: ao olhá-la de frente, em seu fomato é possível ver um; o segundo pode ser encontrado na parte superior (na testa) e o terceiro é observado no formato do nariz. O quarto coração é visto na área muscular do peito, quando o animal está sentado. O quinto, contudo, não pode ser visto externamente, já que é o coração propriamente dito, que bate dentro de seu peito. Ao amadurecer, por volta dos 3 a 5 anos, as formas tornam-se ainda mais proeminentes.
Com tantos corações, se o bichano for dado como presente para uma noiva, por exemplo, simbolizará um casamento duradouro e feliz.
Pelagem singular
O Korat se destaca por possuir uma cor única, definida como silver-tipped blue, que lhe confere um brilho cintilante. Os tailandeses descrevem essa cor como uma “nuvem cinza de chuva” e o efeito prateado como a “espuma do mar”. A coloração, que encanta os olhos, parece absorver a luz, como se o gato emitisse uma leve áurea pelo corpo.
O pelo, geralmente, é mais claro na raiz com uma gradiente coloração azul, tornando-se mais profunda até a ponta, que é prata. Nos locais em que os pelos são mais curtos, como o focinho e as patas, o tom prateado é ainda mais intenso. A raça é apenas encontrada nessa cor e no padrão sólido, qualquer outra coloração e marcações, mesmo as brancas, não são aceitas.
Curta, a pelagem se caracteriza por ser muito próxima ao corpo. Além disso, não exige muitos cuidados, basta escová-la uma vez por semana para mantê-la bela e retirar os pelos mortos. O felino também se sobressai por não soltar pelos com facilidade quando é acariciado.
Outras características físicas
Ao pegar um Korat no colo é comum ficar surpreso. Apesar de não aparentar ser pesado, ele é robusto. Um macho pode pesar até 4,5 kg, por exemplo. Compacto, possui musculatura bem desenvolvida e marcada. Trata-se de um animal que teve seu corpo projetado e lapidado para sobreviver em meio à natureza: ágil e muito vigoroso.
Fortes, os ombros são arredondados e largos, já o pescoço é curto e pesado e conecta-se a um peito amplo. Sempre atentos, os olhos são grandes e de um verde translúcido, cor definitiva que é alcançada apenas na maturidade. Ela se desenvolve ao longo do tempo, já que os recém-nascidos têm olhos azuis que, quando adolescentes, ganham uma tonalidade âmbar até, enfim, atingirem o desejado verde. Já as orelhas, com pontas arredondas e mais largas na base, complementam seu semblante alerta.
Como raça nativa, o Korat se assemelha à sua aparência original. Ao comparar as primeiras imagens que se tem registro do animal com os exemplares atuais, observa-se nenhuma ou pouquíssimas diferenças. “O Korat é uma das poucas raças felinas remanescentes no mundo que é natural”, ressalta Eva Krynda, que cria o gato há 22 anos e é proprietária do gatil Doklao, em Sidney, Austrália. Ela salienta, ainda, que não é permitido cruzar Korats com outras raças. “A comunidade de criadores de Korat em todo o mundo se apoia muito e trabalha duro para manter ligações com criadores na Tailândia”, esclarece. “Todos os Korats devem ser capazes de traçar a sua linhagem de volta para a Tailândia.”
Da Tailândia para o mundo
Na Tailândia, o Korat também é conhecido como Si-Sawat (pronuncia-se see-sah-waht), que significa azul-acinzentado. Muito valorizada pela população local, a raça não é facilmente encontrada em seu país. Acredita-se que ele fora apresentado na Inglaterra no final do século XIX, porém não fizera sucesso com o público. O bichano retornaria para a terra da rainha apenas em 1972, para, 10 anos depois, ser reconhecido pela The Governing Council of the Cat Fancy (GCCF), principal associação felina local. Em 2014, o Korat era apenas o 27o mais criado no país.
Nos Estados Unidos, ele chegou em 1959 e o primeiro casal de gatos da raça, Nara e Darra, foi importado da Tailândia pela criadora Jean Johnson. O Korat foi reconhecido pela The Cat Fanciers’Association (CFA) em 1966 e, desde então, muitos foram importados do país asiático. Ainda assim, em 2014, ele figurava como uma raridade no país, sendo apenas o 41º mais criado. Atualmente, todas as principais associações reconhecem a raça.
Eva explica que a quantidade de criadores de Korat está em declínio em todo o mundo e que importar novas linhas de felinos da Tailândia pode ser muito difícil e caro. “Alguns países não permitem a importação de quaisquer animais diretamente da Tailândia, como a Austrália”, pontua.
Companheio apegado
O gato também se notabiliza por ser muito inteligente, observador e curioso. Facilmente aprende a abrir gavetas, por exemplo. Apesar de não miar com a mesma frequência que o Siamês, o Korat adora conversar com seus donos ao longo do dia. “Eles geralmente ‘falam’ apenas quando têm algo
a dizer, ou para alertar os donos de suas necessidades”, diz Eva. A criadora acrescenta que alguns adoram colo, porém, geralmente, gostam apenas de se sentar próximo de seus tutores.
O fato é que o bichano está sempre de olho em seu dono, acompanhando seus passos. Amável e leal, é do tipo velcro, que ama ficar junto da família, independente da atividade: do banho de manhã à novela no fim da noite. Por isso, recomenda-se não ignorá-lo quando estiver em casa ou deixá-lo sozinho durante longos períodos. “Eles não gostam de ficar sós, então a companhia constante é importante, de preferência por seres humanos e outro gato de temperamento semelhante.”
O felino se relaciona muito bem com outros gatos, porém exige ser o centro das atenções. O Korat é quem manda na casa, ele requer um “servo” humano para acariciá-lo e atender às suas vontades, independente da presença de outros pets. “Ele gosta muito da atenção humana e pode ser muito mandão e dominante com outras raças de gato. Korats se dão bem com cães, se socializados desde o princípio”, avalia Eva.
Rotina de brincadeiras
Com muita energia, o bichano adora se divertir com sua família. Vigoroso, parará de brincar apenas quando estiver realmente exausto. “Não é difícil ensiná-lo a buscar seu brinquedo favorito ou a andar na coleira”, diz Eva. Oferecer um ambiente enriquecido, portanto, é muito importante para estimulá-lo. “Disponibilizar arranhadores e brinquedos é obrigação de quem deseja ter um Korat.”
Autoconfiante, o felino não é medroso, muito pelo contrário. Adapta-se facilmente a situações diferentes. Ambientes agitados com barulhos altos, contudo, não são de seu agrado. Sua audição e seu olfato são apurados e ele pode identificar sons de longe ou odores que não fazem parte de sua rotina. “Muito alerta e energético e dono de excelentes sentidos, o Korat, caso não seja bem confinado, caçará pássaros e outros pequenos animais”, alerta Eva. Por tratar-se de um pet muito inteligente e curioso, também é recomendável manter todas as portas e janelas fechadas para maior segurança dele, evitando que se envolva em confusões. “Muitos se adaptam facilmente a viver em apartamento, desde que a família seja muito companheira dele”, finaliza a criadora.
Nossos agradecimentos: Eva Krynda, do gatil Doklao, de Sidney, Austrália.
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