Casos já foram relatados em animais de estimação, e gatos parecem ser mais suscetíveis ao vírus
A pandemia vem afetando a vida de nossos pets de forma positiva e negativa, pois ao mesmo tempo que muitos aproveitaram esse momento para adotar e cuidar melhor de seus animais, outros os abandonaram por medo de que pudessem ser vetores da doença – algo que é completamente equivocado. Apesar de não haver estudos mais profundos sobre o tema, o que se descobriu até o momento é que cães e gatos não correm o risco de contaminar seus tutores. Porém, o contrário pode acontecer. Dois casos de cachorros com coronavírus foram registrados em Curitiba, segundo equipe da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e, antes disso, houve o registro de uma gatinha, o primeiro pet confirmado como positivo para o vírus no Brasil.
“Por ora, tudo leva a crer que gatos são mais suscetíveis ao novo coronavírus, fenômeno relacionado à semelhança dos receptores celulares para a entrada nas células pelo patógeno entre felinos e humanos. Os cães parecem mais resistentes e não há evidências mostrando que podem passar o vírus entre eles. Vale reforçar que os casos em pets são raríssimos no mundo e os poucos casos descritos até o momento foram de animais que adquiriram dos humanos o vírus e não o inverso”, disse o médico-veterinário Mário Marcondes, diretor do Hospital Veterinário Sena Madureira, de São Paulo, em seu blog Pet saudável, do site Veja Saúde. Ainda segundo ele, os poucos casos de pets contaminados no Brasil foram detectados graças a um projeto de monitoramento de animais de companhia realizado pela UFPR nas cidades de Curitiba, Belo Horizonte, Campo Grande, Recife, São Paulo e Cuiabá, que testou vários animais. “Estudos nacionais e internacionais de avaliação de animais, como o da UFPR, são importantíssimos para um correto monitoramento da epidemia no Brasil e no mundo. Eles auxiliam a detectar precocemente eventuais mutações e a entender toda a cadeia de transmissão”, continua Marcondes em seu blog.
Segundo o veterinário Paulo Abílio Varella Lisboa, pesquisador do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict), da Fiocruz, já foram relatados casos de Covid-19 em espécies domésticas como gatos, cães e furão, em espécies selvagens ou silvestres como tigre, leão, leopardo da neve, puma, vison selvagem, gorila e em visons de fazendas de produção. Ainda segundo ele, o número total de gatos e cães infectados no mundo é considerado extremamente baixo considerando a população total de animais. “Foram notificados pouco mais de 200 cães e gatos no mundo até fevereiro de 2021, segundos dados da Organização mundial de saúde animal (OIE) – que concentra as notificações ocorridas em diversos países. Ainda que o número pareça grande, esse número representa menos de 0,2% da população global estimada de cães e gatos. Os animais infectados parecem ter adquirido a infecção pelo contato direto com os seus donos ou tratadores, no caso de animais de zoológico ou no caso das espécies selvagens ou de fazenda, e não o inverso”, enfatiza Paulo.
O que poucos tutores sabem é que existem cuidados que devem ser tomados com a higiene dos animais para que eles não contraiam a Covid-19 – cuidados estes que deveriam ser tomados mesmo sem a pandemia, alerta Paulo. Veja quais são eles.
Higiene das patas
O veterinário Paulo Abílio aponta que um tutor pode infectar os animais através do espirro ou da tosse e a partir de partículas em suspensão. “Porém não há estudos que mostrem a permanência do vírus nos tecidos cutâneos (pele e pelos) de cães e gatos. Em teoria, animais que circulam ou possam ter acesso a áreas contaminadas na rua poderiam carregar o vírus para dentro de casa, mas não há estudos demonstrando essa evidência. De qualquer forma, é recomendável a higienização das patas e do focinho com uma combinação de água e sabão neutro em pano umedecido. Mas essa higienização deveria ser feita habitualmente em todos os animais que vão à rua, independentemente da epidemia”, ensina.
Mantenha a vacinação
O veterinário também orienta aos tutores que mantenham os cuidados de saúde que já têm com o pet, como o calendário de vacinação, que não deve ser atrasado por conta da pandemia. “As clínicas veterinárias e os profissionais veterinários são classificados como atividades essenciais e estão trabalhando normalmente”, lembra ele. “Animais saudáveis com cuidados em dia (vacinação, vermifugação, alimentação e exames periódicos), têm menos oportunidade de contrair doenças infecciosas. Exames de rotina de sangue são capazes de detectar pequenas alterações e verificar possíveis riscos para pets em geral. Check-ups periódicos são as melhores armas para prevenção de doenças”, acrescenta Paulo.
Cuidado com o álcool em gel
Paulo não recomenda o uso de álcool em gel ou álcool líquido nos pets, pois pode ser abrasivo para a pele dos cães e gatos. “Principalmente se utilizado de forma rotineira ou crônica, ele pode ocasionar lesões alérgicas ou tópicas”, ressalta. Além dessas lesões, como os pets se lambem – principalmente gatos, há ainda risco de intoxicação com esses produtos. “A ingestão acidental por substâncias abrasivas como o álcool ou desinfetantes pode ocasionar intoxicações com sintomas relacionados a náusea, vômitos, diarreias e lesões hepáticas e hematológicas em animais sensíveis ou por excesso ou uso contínuo”, explica.
Tutor com Covid-19
Por fim, para o tutor que testou positivo para o vírus, o veterinário Mário Marcondes recomenda que tome certos cuidados para não contaminar o pet durante o isolamento em casa. “Utilize máscara, luvas e álcool gel para manipular seu pet. Se mantenha em distanciamento e, se possível, evite o contato com o pet até negativar e ser liberado pelos médicos”, recomenda. Além destas dicas, Paulo recomenda a higienização da pele dos pets com pano e sabão neutro ou lenços umedecidos de limpeza seca, após a manipulação do pet pelo tutor infectado.
Por Samia Malas
Colaboraram para este artigo :
Mário Marcondes
Diretor do Hospital Veterinário Sena Madureira, de São Paulo. Possui mestrado pela Faculdade de Medicina Veterinária da USP e doutorado em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-Instituto do Coração (InCor-USP).
Paulo Abílio Varella Lisboa
Médico veterinário UFF, Mestre em Ciências Veterinárias pela UFRRJ, Doutorando em Ciências Veterinárias pela UFRRJ, Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, Professor Convidado da Universidade Qualittas, Coordenador do Núcleo de Experimentação de Tecnologias em Saúde (NEXT), do Instituto de Comunicação e Informação científica e tecnológica em saúde (ICICT/FIOCRUZ).