Gatos não costumam demonstrar sinais de doença, cabendo ao tutor ficar atento a mudanças no comportamento e na rotina deles
Ao contrário dos cães, os gatos têm o hábito de esconder seus sintomas, uma vez que não querem demonstrar vulnerabilidade. “Na natureza, se você está doente, torna-se uma presa fácil para os predadores”, afirma o médico-veterinário Pedro Horta. Essa característica, herdada de seus ancestrais selvagens, também está ligada ao fato de que os gatos são animais solitários. “Eles vivem sozinhos, conseguem caçar e se manter de forma independente. Por isso, na evolução, não foi necessário que desenvolvessem a comunicação para mostrar sintomas de dor ou mal-estar.
”Tudo isso dificulta o diagnóstico precoce de problemas de saúde nos gatinhos e, assim, é fundamental que os tutores fiquem atentos a qualquer mudança no comportamento e nos hábitos do pet, pois, como gatos são animais de rotina, essas alterações podem ser os primeiros sinais de que algo não está bem.
1. OSCILAÇÕES NA BALANÇA
Um sintoma muito importante, que pode ser um pouco mais complexo de se perceber, é a perda de peso. Apesar de poder ser fisiológica e ocorrer em gatos com idade mais avançada, ela também é sintoma da maioria das doenças dos felinos, o que torna o peso um parâmetro importante, de acordo com Pedro Horta. Ele lembra, ainda, que qualquer quadro clínico é piorado quando a condição corporal é baixa. “E o ganho de peso também pode ser causado por condições clínicas, sendo que a obesidade é deletéria para a saúde do animal como um todo, devendo ser controlada e tratada”, acrescenta.
2. ALTERAÇÕES DE APETITE
Algumas doenças, como diabetes, triadite e hipertireoidismo, podem aumentar o apetite dos gatos, fazendo-os comer mais do que o normal, com ou sem ganho de peso. Já a perda de apetite é um sintoma comum e preocupante em várias condições de saúde. Além disso, problemas comportamentais, como tédio, frustração e medo, também podem afetar o apetite, levando ao aumento ou à diminuição da ingestão de alimentos.
3. MAIOR INGESTÃO HÍDRICA
Beber água em excesso pode estar relacionado a doenças como insuficiência renal crônica, diabetes ou hipertireoidismo, mas é importante estimular a ingestão hídrica na medida certa. “Gatos apresentam baixa sensação de sede, possuem uma língua pequena, que não favorece a ingestão de água livre, e ainda têm uma alta capacidade de concentração urinária”, destaca a médica-veterinária Carla Santos. Ela explica que a melhor maneira de garantir que seu gato se mantenha hidratado é oferecer alimentos com alto teor de umidade. “Alimentos úmidos, em geral, contêm mais de 80% de água – dez vezes mais do que a ração seca”, aponta ela, que também indica o uso de água saborizada para aumentar a hidratação quando necessário.
4. VÔMITOS E DIARREIA
Alterações gastrointestinais são sintomas comuns em gatos e merecem a atenção dos seus donos. Os felinos, assim como nós, podem ter mal-estar passageiro, vômito ou diarreia por um ou dois dias, muitas vezes melhorando sozinhos. “Alterações crônicas, no entanto, preocupam”, alerta Horta. Segundo ele, os vômitos muitas vezes não recebem a atenção devida, pois existe uma crença popular de que é comum os gatos vomitarem, “o que hoje em dia sabemos que não é verdade”, ressalta. “Gatos que vomitam esporadicamente, sem outros sintomas, ou que eliminam bolas de pelos nos vômitos (sabendo que os pelos devem ser eliminados nas fezes normalmente), geralmente têm alguma causa de base, muitas vezes alterações no trato gastrointestinal.”
5. DEJETOS FORA DE LUGAR
Deixar de usar a caixa de areia sanitária quase sempre é sintoma de alguma doença. “Gatos são muito limpos e sempre usam caixas higiênicas. Urinar fora da caixa geralmente está associado a alguma doença do trato urinário, sendo muito raro ter causa comportamental. Obviamente, assim como nós, a coloração e o volume da urina podem variar um pouco ao longo dos dias, mas uma variação constante e progressiva sempre preocupa e precisa ser considerada”, ressalta Horta.
6. BAIXO NÍVEL DE ATIVIDADE
Para Carla Santos, um nível baixo de atividade em gatos deve sempre ser motivo de preocupação para os tutores. Isso porque diversas condições podem estar por trás dessa diminuição na energia, incluindo dores articulares e doenças sistêmicas.
7. AGRESSIVIDADE E AVERSÃO AO TOQUE
“Tornar-se mais agressivo ou menos tolerante, não permitir mais toques ou contenção, pode significar que o gato está com dor em algum lugar, mal-estar ou que pode estar doente”, afirma Horta.
Para Carla, a agressividade pode estar relacionada a alguma dor ou a mudanças no ambiente do animal de estimação. Assim, deve-se investigar as causas deste sinal no felino.
8. ARRANHADURA DE MÓVEIS
De acordo com o médico-veterinário Pedro Horta, arranhar móveis é um hábito normal e saudável para os gatos. “Além de manter a saúde das unhas, tem um aspecto de comunicação social e demarcação de território”, diz.
Assim, segundo o médico-veterinário, não é comum que problemas levem os gatos a arranhar os móveis. No entanto, ele pondera: “algumas condições podem levar a comportamentos repetitivos, e algumas doenças nas unhas e nos coxins também podem ter esse tipo de quadro. Ou seja, um gato adulto ou idoso que começa a arranhar móveis pode sim indicar algo, apesar de não ser comum.”
9. ISOLAMENTO
Se um gato mais sociável passa a se esconder com mais frequência, pode ser que ele esteja incomodado com alguma coisa. Ele pode estar sentindo alguma dor ou náusea, ou até mesmo apresentar alguma questão comportamental – por conta de mudanças no ambiente, por exemplo. Então, o isolamento repentino é sempre um motivo de alerta.
10. CARÊNCIA
Por outro lado, segundo Horta, um gato que é mais isolado e tímido e começa a procurar mais contato e mais carinho, pode estar com algum mal-estar – ainda que essa atitude seja encarada como algo positivo pelo tutor.
11. MIADO EXCESSIVO
Carla explica que a vocalização em excesso durante o ato de urinar está relacionada à marcação territorial. Essa mudança de comportamento também pode ter ligação com algumas condições, entre elas, a disfunção cognitiva (semelhante à demência em humanos), a hipertensão arterial e ao hipertireoidismo. Horta ainda acrescenta: “o miado em excesso também pode ter uma base psicológica, como medo, estresse ou mudanças na rotina”. Assim, é algo que precisa ser avaliado para que as possíveis causas físicas sejam descartadas. “E, mesmo sendo comportamental, também pode exigir cuidados e tratamentos”, completa.
12. ALTERAÇÕES NA PELAGEM
“A qualidade da pelagem também é importante”, reforça Horta. “O organismo, quando está doente ou com algum problema, costuma deslocar os recursos e nutrientes para órgãos mais importantes. Quando há subnutrição ou desidratação, a pelagem costuma apresentar sintomas antes, ficando ressecada, com descamação e pelos de pior qualidade. Além disso, muitos animais, quando estão doentes ou não estão se sentindo bem, diminuem os hábitos de auto higiene, ficando com o pelame mais seborreico e desleixado.” O profissional destaca que, por ser mais fácil avaliar, às vezes a pele serve como um sinalizador de outros problemas.
13. LAMBER-SE EXCESSIVAMENTE
“Os gatos que apresentam coceira lambem-se com mais frequência, e muitos tutores têm dificuldade de reconhecer isso como algo patológico”, afirma Carla.
Horta acrescenta que o hábito de lamber-se com mais frequência pode ser ocasionado por estresse e frustrações, mas também por dermatites alérgicas, dermatopatias e ectoparasitas, entre outros problemas de saúde.
Agradecimentos:
Carla Santos Graduada em Medicina Veterinária pela UFF; pós-graduada em Cirurgia pela Universidade Castelo Branco; mestre e doutora pela UFRRJ, com ênfase em Medicina Felina; professora de pós-graduação em Medicina Felina; palestrante na área de Medicina Felina; e autora de capítulo sobre Nefrologia e Urologia em felinos. Instagram: @carlasantosmedvetfelinos
Pedro Horta Médico-veterinário formado pela FMVZ-USP com residência e mestrado pela USP. Diretor geral dos Hospitais 4cats, presidente do conselho científico da ABFel e Cat Friendly Veterinarian pela AAFP Instagram: @pedrohorta.vet / Site: www.4cats.com.br / E-mail: [email protected]
Por Lila de Oliveira