Problemas renais em gatos: como identificar?

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Fique de olho nos hábitos do seu bichano e descubra se ele sofre de problemas renais. Perda de peso e excesso de urina podem ser alguns sinais!

Com certeza você, gateiro, já ouviu falar ou já acompanhou de perto algum gatinho com problema renal. Isso porque felinos têm pre-disposição genética para tal problema, além de conseguirem permanecer por muito tempo sem beber água e serem dotados de uma enorme capacidade de concentrar urina devido a sua origem desértica – o que não é nada bom para a saúde deles. “Toda anormalidade na urina deve ser informada ao veterinário. Quanto mais cedo se descobre uma alteração, mais fácil e mais barato fica o tratamento”, orienta Karine Kleine, médica veterinária e membro do Colégio Brasileiro de Nefrologia e Urologia Veterinária.
Por isso, fique ligado nas dicas a seguir e mantenha seu bichano saudável e feliz. Os sinais de que algo não vai bem variam de acordo com o comprometimento renal e o estágio da doença. No entanto, os mais comuns e facilmente notados são: emagrecimento rápido, ingestão excessiva de água e, consequentemente, micção frequente e em grande volume. “É comum no consultório, quando atendemos um gatinho com doença renal, a queixa de que o tutor tem que limpar a caixinha de areia várias vezes por dia ou que o bichano começou a urinar em locais estranhos”, diz a médica veterinária especialista em felinos Mariana Benitez Fini. Além disso, o bichinho ainda pode apresentar:
• Febre
• Anemia
• Apetite diminuído • Mau hálito
• Feridas na boca e na língua (tipo aftas)
• Dores abdominais
• Vômitos
• Diarreia

Atenção aos veteranos;
Machos e fêmeas de qualquer raça felina com mais de 7 anos exigem atenção especial. “A maioria dos gatos geriátricos é acometida
pelas doenças renais em decorrência do processo normal de envelhecimento. Por isso a visita ao veterinário é ainda mais importante para os bichanos de 7 a 10 anos”, explica a médica veterinária especialista em felinos Guadalupe Ferreira.
“A doença mais comum na clínica é a Doença Renal Crônica (DRC), principalmente nos gatinhos mais velhos. Por isso, é importante
preveni-la desde a juventude do animal”, indica Mariana.

O ideal é prevenir desde cedo; Para prevenir os problemas renais em gatinhos mais novos, além de sempre lhes oferecer água fresca, é importante evitar o uso indiscriminado de medicamentos que possam afetar os rins, como anti-inflamatórios e alguns antibióticos. Deve-se também evitar o uso de medicamentos para humanos – exceto quando prescritos pelo veterinário. “O tutor nunca deve medicar o gatinho por conta própria, mesmo que o veterinário já tenha receitado o mesmo medicamento em uma situação semelhante”, diz Mariana.
Além disso, levar o bichano ao veterinário para um check-up a cada seis meses e uma dieta balanceada também são pontos fundamentais para prevenir os problemas renais.

Incentive o bichano a beber água Para prevenir uma doença inflamatória, por exemplo, fique sempre atento à quantidade de água que o gatinho ingere.
“O recomendado é que o bichano tenha vários potinhos de água espalhados pela casa e, se possível, uma fonte de água corrente para estimular a hidratação e reduzir as chances de uma infecção urinária, que pode evoluir para uma infecção renal”, orienta Mariana. Isso porque a infecção urinária é mais fácil de ser tratada e não tem consequências tão graves quanto a renal, que pode até matar o animal.

Investigando a doença; Para descobrir o motivo pelo qual o seu gatinho está emagrecendo e apresentando todos esses sinais clínicos, o médico veterinário
trabalha como um verdadeiro detetive, afinal, o diagnóstico das doenças renais é feito a partir de uma série de exames, como:
• Hemograma; • Bioquímica sérica da função renal (ureia e creatinina);
• Urinálise e ultrassonografia.

“Confirmada a doença renal, o veterinário pode pedir alguns exames mais específicos, como dosagem de potássio e fósforo, verificação de pressão arterial (que parece algo simples, mas ainda não está disponível em todas as clínicas) e outros procedimentos que julgar
necessários”, diz Mariana.

O tratamento;
Os procedimentos variam de acordo com as doenças renais. “Há casos em que o tratamento é medicamentoso, com antibióticos e anti-inflamatórios. Já um tumor renal será tratado com quimioterapia ou outros processos de acordo com o estágio e a evolução do quadro”, diz Mariana. Aqui no Brasil, a hemodiálise (processo de filtragem e depuração de substâncias indesejáveis do sangue, como a creatinina e a ureia) que seria o tratamento para a maioria dos casos de DRC, ainda não está ao alcance de grande parte da população, pois é um procedimento caro e está restrito aos grandes centros, como Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. “A hemodiálise não dói e não é realizada para sempre como nos humanos. Esse processo pode ser evitado se o animal for tratado a tempo, ou seja, quanto mais cedo o tratamento for iniciado, maior é a chance de evitar a hemodiálise. Em casos mais graves, esse procedimento é indicado e pode ser o diferencial do tratamento”, explica Karine.
“A fluidoterapia, tratamento disponível em qualquer clínica veterinária, (trata-se da aplicação de soro na veia realizada em sessões diárias ou mais espaçadas, de acordo com o quadro clínico do gatinho) associada a medicamentos e a uma dieta balanceada – com restrição proteica, suplementação vitamínica e ingestão de água – , muitas vezes dá conta do recado. Mas é importante lembrar que o tratamento da DRC é para toda a vida, uma vez que não há cura total da doença”, completa Mariana.
“As lesões no rim são progressivas e irreversíveis. No entanto, os episódios de progressão doença renal podem ser alternados, por longos períodos, em que as funções renais se mantêm clinicamente estáveis após realização de tratamento”, finaliza Guadalupe.

Nutrição a favor da saúde! Segundo Guadalupe, recomenda-se o uso de dietas renais em gatos a partir do estágio dois da doença, quando o gatinho
já começa a apresentar sinais clínicos, como perda de peso e apetite seletivo. De acordo com a classificação da Sociedade Internacional de Interesses Renal (International Renal InterestSociety – IRIS), há quatro estágios no total.
“A dieta renal previne ou atrasa o aparecimento de uremia [elevação de ureia no sangue, que é uma das implicações mais
graves da DRC] e, consequentemente, a morte do animal devido às complicações provocadas pela doença”, explica Guadalupe. Tóxica, a ureia é um composto orgânico cristalino e incolor filtrado pelos rins e eliminado pela urina.
“Hoje em dia existem alimentos de excelente qualidade e dietas balanceadas sem excesso de substâncias que prejudicam o rim, como proteína, sal e fósforo, que precisam estar na dieta, mas em quantidade adequada”, completa Karine.
De acordo com Mariana, no mercado pet os tutores de gatos encontram alimentos que servem como adjuvantes no tratamento de diversas doenças e condições fisiológicas. Os produtos voltados para casos de enfermidades do trato urinário são adequados para os seguintes casos:
• Urinary: para gatinhos que apresentam problemas urinários, como cálculos na bexiga e obstrução urinária. Essa dieta evita
a formação de cristais na urina, que podem levar a novos cálculos.
• Renal: alimentos do tipo “renal” são balanceados especialmente para os animais que possuem doenças renais. Não possuem
tantas proteínas, sais e fósforo, evitando, assim, uma sobrecarga do rim, e só devem ser fornecidos a partir de recomendação veterinária.

Por Leila Bonfietti Lima

Colaboraram para a matéria:

Guadalupe Sampaio Ferreira
Médica veterinária especialista em clínica médica de felinos domésticos e doutoranda em clínica médica veterinária no setor
de nefrologia e urologia veterinária da FCAV/ Unesp Jaboticabal – SP

Karine Kleine M.V. MSc.
Especialista em cardiologia, nefrologia e células-tronco. Membro do Colégio Brasileiro de Nefrologia e Urologia Veterinária. Diretora do Grupo Kleine Especialidades Veterinárias – www.grupokleine.com.br

Mariana BenitezFini
Médica veterinária – Clínica veterinária AniMais – petdicas.com.br


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