Embora muitas vezes subdiagnosticada, essa condição inflamatória crônica afeta 8 em cada 10 gatos com mais de 10 anos
A osteoartrite é uma doença crônica, degenerativa e subdiagnosticada, que ocorre devido ao desgaste da cartilagem articular – o tecido que amortece as extremidades dos ossos nas articulações.
Trata-se de uma condição incurável, que afeta a qualidade devida dos gatos por conta da dor, da dificuldade de locomoção e da impossibilidade de realizar muitas das atividades às quais eles estavam acostumados.
PREVALÊNCIA
A médica-veterinária Maira Formenton, que é pós-graduada em Fisioterapia e Reabilitação e proprietária e diretora do Centro de Fisioterapia e Reabilitação Veterinária Fisioanimal, de São Paulo, conta que a doença aparece mais frequentemente em animais idosos, devido ao desgaste natural ocasionado pelo tempo. “A articulação também envelhece, causando o desgaste na cartilagem, um processo de microinflamação, que traz dor e disfunção, ou seja, a articulação passa a não funcionar direito”, diz a médica-veterinária.
Segundo a também médica-veterinária Estela Pazos, de São Paulo, a osteoartrite é mais frequente a partir dos 7 anos de idade, embora possa surgir em gatos mais jovens. “Estudos revelam que cerca de 92% dos gatos acima dos 12 anos apresentam algum grau de comprometimento articular”, destaca Estela, que é especializada em Medicina Felina.
A profissional explica que algumas raças podem ser mais predispostas ao aparecimento da osteoartrite, principalmente se tiverem algum acometimento genético das articulações. “Mas também vemos a mesma condição em gatos sem raça definida. Então não podemos generalizar”, atesta. Maira concorda que a questão racial é importante: “Gatos de porte maior, como o Maine Coon, estão mais sujeitos a problemas como displasia coxofemoral e luxação de patela, que levam a lesões articulares precoces, tornando-os mais propensos a desenvolver osteoartrite precocemente, até mesmo na juventude, e fazendo com que eles sofram durante toda a vida se não forem tratados”.
CAUSAS
Entre os fatores que desencadeiam a doença em felinos estão o envelhecimento das articulações do animal de estimação, que resulta na osteoartrite primária; lesões decorrentes de traumas, como uma luxação patelar, que podem antecipar esse processo; doenças preexistentes que causam incongruências ou mal formações articulares, como a displasia coxofemoral; sedentarismo; e a obesidade, que infelizmente tem sido comum também na espécie felina. Embora a nutrição seja um aspecto relevante, a maioria dos felinos domésticos tem acesso a uma ração de boa qualidade, o que faz com que essa preocupação seja menor em comparação com outros fatores, na opinião da Dra. Maira. Além disso, a existência de pisos escorregadios nas casas, que dificultam a aderência ao solo e levam os gatos a forçarem demais suas articulações, pode agravar o quadro de osteoartrite.
COMO PREVENIR
A prevenção envolve uma abordagem multimodal, que deve incluir acompanhamento veterinário, alimentação adequada, controle do peso e estímulo ao exercício físico – evitando pisos escorregadios e traumas frequentes -, para que o gato seja ativo e que tenha suporte articular, de modo a não desenvolver a doença precocemente.
Pode ser necessária a utilização de suplementos condroprotetores que oferecem uma proteção extra para as cartilagens ósseas – mas devem ser prescritos por um médico-veterinário.
SINTOMAS
Como os gatos são verdadeiros mestres em disfarçar a dor, muitas vezes os sinais passam despercebidos por seus cuidadores. “Diferentemente do que acontece com os cães, que mancam, os gatos irão compensar e buscar manter sua vida normal até que a dor se torne insuportável. Aí aparecem os sintomas mais evidentes”, explica Estela Pazos.
Entre as situações que devem chamar a atenção do tutor, vale destacar que o gato pode parar de subir em lugares altos, como prateleiras, mesas ou camas; pode passar a evitar subir escadas; reduzir significativamente a movimentação, preferindo dormir mais (o que muitas vezes é confundido com sinais de envelhecimento); começar a urinar ou defecar fora da caixa de areia, devido à dificuldade de agachar (sintoma que pode ser erroneamente atribuído a um problema comportamental); e morder o tutor quando acariciado em uma área específica do corpo, devido à dor. O gato simplesmente deixa de realizar certas atividades por causa da dor, sem vocalizar ou demonstrar de forma óbvia.
DIAGNÓSTICO
“Para se fazer o diagnóstico da osteoartrite, o tutor deve levar o gato ao veterinário, que fará um exame clínico com apalpação, para identificar a presença de dor nessa articulação ou a perda de massa muscular. Ele provavelmente fará um exame de raio-x para confirmar a presença da doença”, afirma Maira. Segundo Estela, tomografias e ressonâncias também podem ser necessárias.
TRATAMENTO
Embora não exista cura para a osteoartrite, é possível controlar a doença e garantir uma boa qualidade de vida para o animal. Segundo Estela, existem medicamentos analgésicos e anti-inflamatórios que serão escolhidos especificamente para aquele paciente. “A meu ver, é de extrema importância iniciar tratamentos que visem melhorar a inflamação articular e impedir a sua progressão, tais como acupuntura, ozonioterapia, magnetoterapia, laser-terapia e até mesmo a fisioterapia. Adaptar a casa para esse paciente também deve ser parte do tratamento”, diz a médica-veterinária. Ela informa que uma nova medicação chegou recentemente ao Brasil. “São injeções mensais, que atuam de forma excelente no controle da dor, mas os demais tratamentos devem ser mantidos, para que eles atuem no controle da degeneração articular. E também temos os suplementos como tratamentos complementares, excelentes auxiliares que atuam na lubrificação articular e na redução da progressão da doença.
”Para Maira, quando falamos em suplementação, é importante dizer que, se o gato já consome ração super premium, os benefícios adicionais podem ser limitados. A médica-veterinária ainda compartilha que estudos recentes indicam que suplementos como colágeno têm pouco impacto na progressão da osteoartrite. “Atualmente, o ômega 3 é o suplemento mais recomendado, pois oferece benefícios reais à saúde articular”, diz a veterinária. Ainda de acordo com ela, existem hoje diversas opções para atendimento personalizado ao gato, em que as técnicas de fisioterapia são adaptadas à espécie e ao comportamento. “Comum pouco de criatividade, é possível fazer exercícios, introduzir fortalecimento dos músculos e permitir que a articulação tenha mais sustentação, ou seja, a base do tratamento é controle da obesidade, controle alimentar, controle inflamatório e estímulo à movimentação”, finaliza. Assim, você, tutor, precisa ficar atento aos sinais e procurar um médico-veterinário diante de qualquer anormalidade, incômodo no pet ou mudança de comportamento.
Agradecemos a colaboração de
Estela Pazos, Médica-veterinária pós-graduada em Medicina Felina. Atende exclusivamente gatos em São Paulo, nas áreas de: clínica médica de felinos, medicina integrativa com foco em nutracêuticos, ozonioterapia, terapia neural e homotoxicologia.
Instagram: @estelapazos, E-mail: estelafelinosgmail.com
Maira Formenton, Graduada, mestre e doutora em Medicina Veterinária pela FMVZ-USP. Professora convidada e pesquisadora associada FMVZ – USP. Pós-graduada em Fisioterapia e Reabilitação pelo Instituto Bioethicus. Membro do Ambulatório de Dor e Cuidados Paliativos FMVZ-USP. Formada em dor pelo Curso Interdisciplinar Tratamento da Dor do Hospital das Clínicas – Faculdade Medicina. Coordenação e Professora na pós-graduação em Fisioterapia, Fisiatria e Reabilitação Veterinária do Instituto Bioethicus – Botucatu. Membro da Comissão de Fisioterapia Veterinária do CRMV-SP. Proprietária e diretora do Centro de Fisioterapia e Reabilitação Veterinária Fisioanimal.
Instagram: @dramairaformenton e @fisioanima
Por Lila de Oliveira