Pele saudável, bichano feliz!!!

Conheça as principais doenças dermatológicas que acometem felinos e proteja o seu bichano

Imagem de sunnivalode97 por Pixabay

A fama de “coçadores” incontroláveis é dos cães, no entanto, os gatos também sofrem com doenças relacionadas à pele. Apesar de serem bastante higiênicos e de não exigirem uma visita ao banho e tosa toda semana, como algumas raças caninas, os bichanos também podem apresentar coceira e lambedura em excesso, falha na pelagem e até feridas.

Os principais problemas dermatológicos em gatos são de origem alérgica, parasitária, fúngica e neoplásica. Cada um deles possui um tratamento específico, por isso, é fundamental que seu bichano seja atendido por um especialista em dermatologia. Assim, se você perceber que o seu gatinho está se coçando ou se lambendo demais, leve-o ao médico veterinário. A realização de exames dermatológicos é muito importante para a identificação correta do diagnóstico antes do tratamento ser iniciado. A doença de pele mal diagnosticada e tratada de forma errada pode se tornar crônica, acarretando outras complicações, tanto cutâneas, ou seja, restritas à pele, quanto extracutâneas, que afetam outros órgãos. Saiba mais sobre cada uma dessas doenças e fique de olho no seu bichano!

Felinos alérgicos:

Nesta categoria, a dermatite alérgica à picada de pulgas e a alergia alimentar são as mais comuns nos felinos. O diagnóstico da dermatite alérgica é dado somente após a realização dos exames laboratoriais que excluem outras doenças cutâneas. O tratamento consiste no controle dos sintomas e na eliminação da causa. “No caso de alergias a ectoparasitas, devemos eliminar tais agentes tanto do animal quanto do ambiente com parasiticidas tópicos (aplicados na pele do animal) ou sistêmicos, (oferecidos via oral ou injetável e que matam os insetos e ácaros que estão no bichano), e tratar os sintomas com antialérgicos (orais, injetáveis ou tópicos), além de banhos com xampus específicos”, explica a dermatologista veterinária Cibele Nahas Mazzei. O objetivo desse procedimento, é impedir que o gato tenha contato com aquilo que desencadeia a alergia, o chamado alérgeno. Em casos de alergia alimentar o método usado para eliminar os sintomas é o mesmo, ou seja, impedir que o bichano tenha contato com o que lhe faz mal. “A troca da dieta para uma que não contenha os ingredientes aos quais o felino é sensível é imprescindível”, aponta a médica veterinária Marcia Lima, também especialista em dermatologia. No entanto, o diagnóstico da alergia alimentar é um pouco mais complicado (e demorado), pois exige uma série de restrições alimentares até que se chegue ao componente responsável pelas crises. “Cabe lembrar que ainda não há evidências científicas para afirmarmos que corantes e conservantes estão ligados à alergia alimentar em felinos. Até o momento, há estudos que indicam a proteína da dieta como agente alérgeno”, completa Marcia. Portanto, a troca desse componente por outro nunca antes ingerido por ele é o primeiro passo para começar a investigação. A melhora do quadro dermatológico só acontece após dois meses sem contato com as proteínas habituais. As dietas hipoalergêni-
cas possuem proteínas inéditas ou quimicamente tratadas para terem tamanho molecular menor e, assim, não serem reconhecidas pelo organismo. “Após confirmarmos a melhora do animal, é necessário realizar um período de reexposição aos ingredientes proteicos da dieta antiga, um de cada vez, para identificarmos quais deles causavam as crises. Só assim conseguimos uma dieta adequada para cada felino alérgico”, ensina Marcia. Segundo Cibele, para diferenciar uma alergia por pulga da alimentar ou da dermatite atópica é necessário excluir possibilidades,
uma vez que os sintomas são muito semelhantes entre si. “Começamos eliminando pulgas e ácaros, depois alimentos e, por fim, chegamos aos inalantes ambientais (ácaros de poeira, pólen de plantas e bolor, por exemplo). Para estes últimos podemos recorrer a testes alérgicos intradérmicos e vacinas dessensibilizantes, ou tratar os bichanos com medicamentos orais ou injetáveis”, esclarece a veterinária.

Os principais sintomas são:
• Coceira (prurido), • Falha na pelagem devido ao excesso de lambedura causado pelo prurido,
• Áreas de vermelhidão na pele (eritema),
• Pápulas e crostas (dermatite miliar),
• Descamação da pele.

O QUE É CAUDA DE GARANHÃO? Esse é o nome dado a uma dermatite comum em machos não castrados, (daí o nome garanhão), embora possa acometer também felinos castrados e fêmeas. Consiste em uma acentuada produção de sebo no dorso da cauda felina. “Esses bichanos apresentam maior atividade sebácea em função dos hormônios sexuais masculinos. Esse excesso gera a perda de pelagem no local, com formação de crostas e cravos (comedos), bem como oleosidade visível e palpável. Essa condição costuma acompanhar quadros de natureza alérgica ou endócrina, como atopia, alergia alimentar ou hipertireoidismo. O tratamento é feito com xampus e substâncias desengordurantes”, explica Cibele. “A castração cessa o contato das glândulas afetadas com a testosterona e, em poucas semanas, já se pode notar o crescimento dos pelos no local novamente. Por esse motivo a cirurgia é tida como preventiva em felinos jovens”, diz Marcia.

Doenças parasitárias

As mais comuns são originadas por ácaros (causadores de sarna), como:

Escabiose (sarna notoédrica): Se destaca entre as dermatites parasitárias, acometendo cerca de 15% dos gatos atendidos com alguma queixa dermatológica. A forma de transmissão ocorre pelo contato direto com ambientes contaminados, fômites (objetos infectados, como escovas e cobertores, por exemplo) ou animais infectados, e cães e humanos também podem se contaminar.

“A escabiose, que tem cura completa, é tratada com acaricidas tópicos ou sistêmicos, higienização do ambiente com produtos especí-
ficos disponíveis no mercado pet, medicamentos antipruriginosos orais ou injetáveis e banhos com xampus ou sabonetes acaricidas”,
explica Cibele.

Ela se manifesta por meio de:
• Crostas e escamas na cabeça e na cauda,
• Coceira intensa,
• Aumento da espessura da pele nas regiões afetadas.

• Sarna demodécica (ou sarna negra): É mais rara em felinos que em cães e pode ser causada por dois tipos de ácaros, o Demo-
dex catti, transmitida verticalmente, ou seja, da mãe para o filhote e causando perda de pelagem e pouca ou nenhuma coceira, e o Demodex gatoe, que, ao contrário, é contraída de maneira horizontal – de um gato para outro – e causa bastante coceira.

A sarna originada pelo Demodex catti somente ocorre porque os animais o herdam das mães quando nascem, mesmo elas sendo
saudáveis. Esse ácaro faz parte da pele do cão e do gato, e a sarna ocorre nos animais que herdam também um gene que causa imuno-
deficiência celular específica para o ácaro. Por isso, a sarna demodécica em gatos é preocupante não apenas devido a sua ação na pele, mas porque também pode indicar nos felinos adultos ou idosos a presença de doenças imunossupressoras, ou seja, que reduzem a eficiência das defesas do organismo e podem ser causadas por vírus (como FIV e FelV), estados metabólicos alterados (como, por exemplo, pelo uso prolongado de corticoide, diabetes etc.) ou deficiências nutricionais severas. “A sarna demodécica Demodex catti pode ser controlada com acaricidas tópicos ou sistêmicos, uma vez que o animal fica portador
do ácaro por toda a vida”, explica Cibele. A especialista ainda esclarece que a doença também é chamada de sarna negra porque, se não tratada, a pele do bichano vai escurecendo.
Como a escabiose e a sarna demodécica originada pelo ácaro Demodex gatoe podem ser transmitidas para outros gatos, Marcia dá a dica: “Quem tem felino e traz outro da rua para casa sem avaliação veterinária prévia coloca em risco os bichanos não portadores
dessas dermatoses. O ideal nessas situações é isolar o novo integrante felino na área de serviço ou em um banheiro não utilizado pela família até o médico veterinário o liberar da quarentena”.

Doenças fúngicas: Além das doenças alérgicas e parasitárias, as fúngicas são muito frequentes em felinos, sendo a dermatofitose e a esporotricose as
mais preocupantes devido ao risco zoonótico, ou seja, de serem transmitidas para os humanos.

• Dermatofitose (micose superficial): É causada por fungos que consomem a queratina dos pelos e das unhas, por isso, sua prin-
cipal alteração na pele é a falha na pelagem, seguida de descamação e pouca coceira. “Essa doença acomete com frequência os gatos de pelagem longa, como o Persa, o Sagrado da Birmânia e o Angorá Turco, já que o fungo se alimenta da queratina do pelo, e os bichanos mais jovens, que são susceptíveis à micose pois, normalmente, têm hábitos promíscuos e origem incerta, muitas vezes de locais contaminados”, diz Cibele. “O tratamento é feito com medicamentos antifúngicos orais. Também recomendamos banhos com xampus antifúngicos e tosa nos gatos de pelagem longa” acrescenta. “O contágio ocorre por contato, já que os fungos dermatófitos habitam a superfície da pele. Os pelos dos animais contaminados podem permanecer nos sofás, tapetes e até no filtro do ar condicionado por vários meses”, explica Marcia. Portanto, o ambiente deve ser mui-
to bem higienizado com produtos desinfetantes específicos para animais disponíveis no mercado pet.

• Esporotricose (micose profunda): Transmitida por um fungo que habita as plantas e o solo, o gato contrai essa doença esbarrando em espinhos contaminados, por arranhões e mordidas de outros gatos doentes ou pelo contato direto de feridas com o solo também contaminado. Os sintomas são nódulos e úlceras cutâneas na região do nariz, cabeça e das extremidades dos membros, que podem se alastrar
à medida que o animal se lambe. “As lesões adquirem um aspecto bastante assustador em gatos com imunidade baixa ou em casos crôni-
cos, podendo ocorrer perda de peso e até a morte do bichano”, aponta Cibele.
De acordo com Marcia, o diagnóstico das doenças fúngicas em felinos é sempre realizado com exames laboratoriais. O tratamento requer medicamento antifúngico sistêmico por 40 dias no mínimo, podendo chegar a um ano se o bichano continuar exposto ao ambiente contaminado.

Câncer de pele: Atenção aos bichanos brancos. Mais comum em felinos idosos, e principalmente, nos de pelagem branca, o câncer de pele (carcinoma espinocelular) é o mais
frequente. Isso porque a pele e a pelagem escuras possuem maior quantidade de melanina, pigmento natural que protege o animal da radiação solar. As regiões da pele mais expostas ao sol são as pontas das orelhas e a ponte nasal, onde se apresentam incialmente vermelhidões persistentes, crostas e encurvamento das pontas das orelhas e, posteriormente, úlceras extensas, que sangram facilmente e são recobertas por crostas hemorrágicas. O diagnóstico é sempre realizado com base em exames laboratoriais e o tratamento pode incluir algum quimioterápico, mas, em ge-
ral, envolve remoção cirúrgica das lesões. “Nesse caso, quanto menor é a área acometida, melhor será a recuperação cirúrgica. Por isso, um diagnóstico ainda no início da doença é a chave para o sucesso do tratamento de quase todos os casos”, diz Marcia. “Bichanos de pelo claro, independentemente de terem a pelagem longa ou curta, devem ser retirados da exposição solar mais
nociva, ou seja, das 10h da manhã às 15h da tarde. Nesse período eles devem ser mantidos na sombra e o uso do protetor solar deve ser diário”, recomenda Cibele.

PREVENÇÃO É O MELHOR REMÉDIO O melhor método de prevenção é consultar o veterinário dermatologista para obter as informações necessárias sobre quais doenças de pele o seu gatinho é mais susceptível. “Mantenha o seu bichano sempre protegido com ectoparasiticidas tópicos. Nos gatos que têm livre acesso à rua e aos telhados ou frequentam o pet shop, essa é uma medida de prevenção às alergias por picada de pulgas e carrapatos”, explica Cibele, que completa: “A dermatite atópica pode ser evitada com a limpeza adequada do ambiente, evitando o uso de tapetes e cobertores que acumulam poeira e ácaros. As micoses superficiais podem ser evitadas desde a compra ou adoção do animal, observando o manejo e a higiene do gatil ou abrigo e a pele dos demais animais. A escabiose pode ser evitada com a castração, que coíbe as brigas e saídas do animal, uma vez que é transmitida por contato com outros gatos contaminados. A esporotricose também pode ser evitada se o animal for confinado em domicílio e castrado”.

Por Leila Bonfietti Lima

Profa. Dra Cibele Nahas Mazzei Dermatologia Veterinária www.dermatopet.com.br

Marcia Lima Dermatologia Veterinária http://dermatocaoegato.blogspot.com