Vacinação: é importante se programar.

Cegueira em gatos!

É preciso periodicidade na aplicação da vacina para proteger seu gatinho de doenças recorrentes e graves

Stock photo © RooIvan

Ter o controle da vacinação do seu gato é extremamente importante para manter a saúde e o bem-estar dele. Os filhotes, que não têm o sistema imunológico totalmente desenvolvido, precisam ainda mais dessa atenção.
Não existe época ideal para vacinar, porém, no inverno, a incidência de doenças respiratórias é maior, portanto a vacinação antes dessa estação pode ser ainda mais eficaz para o animal.
As vacinas essenciais para manter o gato longe desses males são a polivalente e a vacina antirrábica. A primeira apresenta-se em duas versões: tríplice e quádrupla, chamadas de V3 e V4.
A tríplice previne das doenças panleucopenia, rinotraqueíte e calicivirose, já a quádrupla possui todos os antígenos contidos na V3, incluindo a proteção contra a clamidiose. “A vacinação é importante para que o animal seja capaz de montar uma resposta imunológica, ou seja, para que produza os anticorpos, que são células de defesa.
Dessa forma, caso o animal entre em contato com esses agentes, seu organismo será capaz de combater a infecção, que não cursará com sintomas ou estes serão imperceptíveis”, explica Karin Denise Botteon especializada em clínica médica de pequenos animais. Em casos de grandes aglomerações de gatos, como abrigos, ou de animais que tenham acesso à rua, pode-se optar pela quíntupla felina, que protege também contra a leucemia viral felina.

O mito da vacinação
O mito mais comum que circula entre tutores é o de que o animal que não tem acesso à rua ou contato com outros animais não precisa ser vacinado. Embora as chances de esses animais serem contaminados sejam menores, elas existem, pois os vírus são muito comuns também em nosso lar. Além disso, a raiva, por exemplo, que é uma doença letal para seres humanos e animais, está presente em nosso meio ambiente e devemos considerar que animais silvestres de vida livre, como morcegos, podem carregá-la para dentro de nossas casas.


Mais sobre as doenças combatidas

De acordo com Vanice Dutra, especializada em Medicina Felina do hospital veterinário Pet Care, as doenças que podem ser evitadas pela vacinação são aquelas que acometem o trato respiratório superior e que são causadas pelos vírus calicivírus e herpesvírus. Entretanto, em alguns casos, as infecções por esses vírus podem predispor ao surgimento de quadros respiratórios mais graves, como pneumonias. “Essas doenças têm um ciclo de 3 a 4 semanas, sendo que os sintomas clínicos geralmente desaparecem após 10 ou 15 dias. Entretanto a infecção não confere imunidade permanente, então a vacinação anual é necessária para evitar que a doença reapareça”, afirma Vanice.

Calicivírus

Causa úlcera na cavidade oral, sinais de trato respiratório superior secreção nasal, espirros, secreção ocular e febre alta. Mais tarde, esses animais podem apresentar úlceras orais cronicamente, necessitando de tratamento constante. Alguns gatos são acometidos pela forma “sistêmica virulenta” da doença, que é mais grave e pode causar febre, edema cutâneo, lesões ulcerativas nos membros e cabeça. Nesses casos, a calicivirose tem alta mortalidade e é mais severa em gatos adultos.

Herpesvírus

Causa rinotraqueíte e geralmente está associado à infecção pelo calicivírus e por bactéria. Na maioria dos gatos, a infecção pelo herpesvírus permanece latente por toda a vida e pode ser reativada em casos de imunossupressão (pouca eficiência do sistema imunológico). Os animais acometidos pelo herpesvírus apresentam secreção nasal e ocular.

Clamidiose

Ao contrário dos outros dois agentes, é causada por uma bactéria, a Chlamidya felis, que acomete principalmente animais jovens e os sinais clínicos são principalmente oculares, com secreção, conjuntivite, edema e vermelhidão da conjuntiva.

Panleucopenia

Uma doença muito grave principalmente em filhotes, que pode causar-lhes diarreia e diminuição de todas as células do sangue do animal, levando à imunossupressão e anemia graves e, consequentemente, óbito. Também pode causar aborto em gatas gestantes. A transmissão é pelo contato com fezes contaminadas pelo vírus.

Prevenção para cada idade

A vacina para filhotes e adultos é a mesma, o que muda é o protocolo.
Os protocolos de vacinação podem variar com a idade do animal, que pode ser imunizado ainda filhote, o que é ideal, ou ainda quando adulto, como nos casos em que se desconhece o histórico de vacinação ou quando o animal sabidamente não recebeu as vacinas ainda na fase de filhote.

Filhotes

Para os filhotes, são recomendadas três doses da vacina polivalente, iniciando-se com 8 semanas de idade. Faz-se o primeiro reforço com 12 semanas e um terceiro e último com 16 semanas de idade. Depois se realiza um reforço anual. Nos filhotes, a vacina antirrábica não pode ser feita antes dos 5 meses de idade. Ela consiste em uma única dose com reforço anual, além de ser obrigatória, já que no Brasil a raiva não foi erradicada.

Adultos

Nos adultos esse protocolo muda um pouco. Se eles já receberam a vacinação há menos de 3 anos, eles podem receber a vacinação anual. Caso o gato adulto nunca tenha sido vacinado, ou se a vacina foi há mais de 3 anos, devem ser feitas duas doses, com intervalo de 3 a 4 semanas entre elas.
Depois faz-se o reforço anual.

Reações à vacina De acordo com Karin, qualquer produto que contenha agentes biológicos em sua formulação (vírus, bactérias, fungos, etc.) pode potencialmente ocasionar reações indesejadas. No entanto o risco é muito baixo e não supera os benefícios do seu uso.
A veterinária afirma que entre as reações possíveis estão a febre, letargia, falta de apetite ou dor no local da aplicação. “São sinais geralmente brandos e cuja intervenção médica com o uso de analgésico e antitérmico costuma ser suficiente para o manejo”, diz. Além disso, segundo Vanice, pode aparecer um nódulo no local da aplicação, que desaparece em quatro semanas. Se ele não sumir, o animal deve ser reavaliado.
Outra possibilidade, mas de rara ocorrência, é o desenvolvimento de reação de hipersensibilidade, ou seja, reação alérgica ou anafilática, que poderá se manifestar de forma mais branda como prurido (coceira), edema (inchaço) principalmente na região facial, vômito e diarreia ou, em situação extrema, dificuldade respiratória, queda de pressão arterial e choque. Esse tipo de reação, seja ela branda ou grave, necessita de intervenção veterinária emergencial com o uso de fármacos anti-histamínicos (antialérgicos), anti-inflamatórios esteroidais, como os corticoides, e tratamento específico e de suporte para reações mais graves. O prognóstico é reservado e depende da gravidade dos sinais clínicos apresentados pelo animal.
“Infelizmente, esse tipo de reação não é previsível, ou seja, não se sabe que o organismo tem a sensibilidade até que entre em contato com o produto”, diz Karin.
Assim, o mais importante é que o clínico converse com o tutor do animal e explique esses sintomas para que, no caso de ocorrência, ele possa estar preparado para agir e levar o animal a um pronto-atendimento. “Também é recomendado que a vacinação seja feita em horários em que o tutor ou um responsável esteja em casa para observar o animal no caso de algum imprevisto ocorrer”, completa Karin.

Colaboração de Vanice Dutra Especialista em Medicina Felina do hospital veterinário Pet Care e de Karin Denise Botteon
Médica veterinária graduada pela Universidade Estadual de Londrina. Residência em Clínica Médica de Pequenos Animais
Unesp/Botucatu. Mestrado na área de Anestesiologia e Banco de Sangue na Universidade de São Paulo.


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