Problemas de comportamento felino: 7 situações em que todo gateiro já passou ou passará

Conviver com felinos é uma experiência deliciosa. Eles nos divertem, são fofos, irreverentes e dotados de personalidades únicas. Contudo, existem problemas de comportamento felino que todo gateiro já teve que passar e se ainda não as encarou, com certeza chegará a hora de enfrentar alguma delas. Muitas vezes, por falta de compreensão sobre as necessidades da espécie, não sabemos lidar com tais circunstâncias comuns na rotina de quem convive com os incríveis felinos. Isso porque, segundo explica Juliana Damasceno, especialista em comportamento felino e bem-estar, de Ribeirão Preto-SP, as questões comportamentais mais comuns estão relacionadas ao estresse, à ansiedade, à falta de recursos apropriados em casa e a problemas de fundo clínico. 

Cynthia Bergamini, veterinária com especialização em Medicina de Felinos, de Campinas-SP, ainda aponta a superpopulação de gatos, a permissão do acesso à rua em vez da criação indoor e a falta de saúde preventiva como principais causadores de problemas na rotina de quem tem gatos, pois nessas situações os pets ficam mais suscetíveis e vulneráveis a doenças e distúrbios comportamentais. Assim, com a ajuda dessas e de outros especialistas, esta reportagem lista sete situações com suas soluções para ajudar na rotina do gateiro preocupado em manter a saúde e o bem-estar do felino em dia.


1. Xixi fora da caixa de areia para gatos


Essa é uma reclamação comum entre gateiros. Felinos que fazem xixi ou cocô fora da liteira, a famosa caixa de areia, podem sofrer de doenças como a doença do trato urinário inferior do felino (DTUIF), alerta Cynthia. Ou ainda, excluindo-se causas clínicas por meio de exames específicos feitos no veterinário, a origem desse distúrbio pode ser comportamental, por manejo impróprio do recipiente.  
 

Solução: Excluindo-se causas clínicas em consulta veterinária, atente-se às seguintes recomendações sobre como manter a caixa de areia:

• Tenha a quantidade de caixas de areia proporcional ao número de gatos da casa mais uma;

• Limpe os dejetos ao menos duas vezes ao dia;

• Verifique se o substrato usado agrada ao gato testando várias opções do mercado até que ele aceite uma;

• Faça a troca integral do substrato toda semana ou a cada 15 dias, dependendo do número de gatos em casa e do tipo de substrato usado;

• Ao limpar a liteira não use produtos que repelem felinos como produtos antiodores ou que tenham cheiros fortes e marcantes. “Não se deve usar areia com odores de lavanda, florais, cítricos, pois eles são muito agressivos ao felino, que possui um olfato muito apurado e delicado”, diz Cynthia. Limpe a liteira com sabão neutro ou produtos livres de amônia quaternária. Utilize substratos que sejam sem cheiros e com boa absorção.

• Tenha uma caixa de tamanho adequado ao porte do gato, que precisa conseguir dar uma volta nela;

• Posicione a caixa de areia em local tranquilo, onde o gato se sinta seguro e confortável. 


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2. Gato não quer comer

Gatos são seletivos em tudo na vida, inclusive na hora de se alimentarem. “Eles são exigentes para comer, porém, quando aceitam um alimento adequado e balanceado, não há necessidade de variar o cardápio. Uma mesma dieta, composta de ração seca de qualidade, ração úmida e água filtrada, satisfaz as exigências nutricionais dos felinos”, ensina Cynthia. Contudo, um apetite muito seletivo deve ser encarado como sinal de alerta para possíveis doenças felinas ou algum desajuste no manejo desse felino.
 

Solução: Antes de tudo, leve-o ao veterinário, pois a falta de apetite pode apontar várias doenças enfermidades, entre elas, uma doença grave no fígado conhecida como lipidose hepática. “Somente o veterinário é capaz de avaliar o animal e orientar o tutor quanto ao que deve ser feito”, enfatiza Cynthia. Portanto, a veterinária alerta ser necessária a identificação da causa desse sintoma, pois quando há doença, não se trata apenas de apetite caprichoso. No caso de o gato ter apenas apetite seletivo, deve-se buscar alimentos que apresentem alto teor de palatabilidade. 


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3. Aversão ao veterinário

Levar o gato ao veterinário nunca é uma tarefa muito simples. E o problema começa quando temos de colocá-lo na caixa de transporte. Por serem sensíveis a odores, ambientes estranhos e mudança na rotina, tirar os felinos de seu ambiente seguro e controlado por eles não é algo fácil para a espécie. Assim, o tutor tem o dever de fazer com que essa saída seja o menos estressante para ele, planejando o evento e deixando-o o mais tranquilo possível para o felino. “Gatos necessitam de um tempo para se familiarizarem com o desconhecido”, aponta Cynthia. 
 

Solução: Para evitar que haja estresse na ida ao veterinário, o primeiro passo é acostumar o gato a entrar na caixa de transporte sem receio. Deixe o acessório disponível para que ele adentre em dias que ele não será levado ao vet. Coloque petiscos dentro da caixa para recompensá-lo quando ele for explorá-la. Já quanto à manipulação do gato por parte do profissional, é importante que ele seja acostumado o mais cedo possível com o toque nas diferentes partes de seu corpo. Então, durante as sessões de carinho, mexa na boca do felino, nas patas, em seu rosto, para que ele não encare tal manipulação como inédita. 


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4. Superdependência felina

É comum gatos desenvolverem dependência excessiva com seus donos chamada de ansiedade de separação. Nessa situação, exibem desconforto quando são deixados sozinhos, mesmo que por pouco tempo. Um dos problemas desse tipo de apego é que os felinos podem chegar ao ponto de fazer suas necessidades básicas, como comer, beber água, fazer xixi e cocô, apenas na presença do tutor. “Vocalizações (miados altos), micção e defecação em locais inadequados são outros sintomas”, analisa o médico veterinário especializado em Medicina Felina, Carlos Gabriel Dias, do Rio de Janeiro.

Infelizmente, tal problema tem crescido entre os felinos por conta da rotina mais agitada de seus donos e lares menores em que vivem. Gatos necessitam de graus de independência para estabelecerem vínculos de forma saudável.
 

Solução: O primeiro passo para resolver essa situação é consultar um veterinário para descartar doenças físicas. Confirmada a origem comportamental, é preciso enriquecer o ambiente do gatinho, que precisa ter possibilidades de brincadeiras, aventuras, descobertas e estímulos diversos em sua rotina. Também é importante não deixá-lo se sentir solitário. “O ideal é ter mais de um gato, mas vai depender do espaço e das condições de manejo”, aponta Gabriel.

Outra dica é, quando for sair de casa, não fazer muito alarde. “Brinquedos poderão ser apresentados durante a saída de casa para que a ausência possa ser dissuadida”, recomenda. Ensaie saídas, mas não saia, use um perfume que usa para sair e fique em casa. “Pegue as chaves do carro e coloque-as no bolso mesmo que vá apenas até a padaria e volte”, acrescenta o veterinário. 


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5. Gato carente

Quem nunca foi impedido de escovar os dentes, trabalhar, vestir um sapato ou de fazer qualquer outro simples ato do cotidiano por uma carência felina? Quando é chegada a hora do bichano ganhar um cafuné, você, tutor babão, tem que parar tudo o que está fazendo para atendê-lo, não é mesmo? “Geralmente quando nos cercam, deitam bem onde estamos concentrados, os gatos estão claramente pedindo atenção e carinho. Às vezes a atenção é para brincadeira e às vezes apenas carinho”, sinaliza Juliana. 
 

Solução: Dedique pelo menos 30 minutos diários de brincadeiras com o gato, dando-lhe atenção direta. “Escovação, brincadeiras que ele goste e carinho devem estar inclusos. Novidades no ambiente, como brinquedos e outros materiais como caixas de papelão também são sempre bem-vindos. A dica é revezá-los para mantê-los sempre interessados”, aponta Juliana. Você também pode garantir que ele tenha um espacinho confortável para ficar perto de você enquanto trabalha e desempenha outras funções do dia a dia. 


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6. Gatos com problemas de comportamento para receber visitas

Muitos gatos costumam sumir quando chega algum familiar ou amigo em casa. Apenas com o toque da campainha o felino trata de sumir.
 

Solução: Você pode acostumar o felino com o som da campainha, para que ele não a associe com algo negativo. “Primeiro ofereça uma comidinha que ele goste enquanto a campainha é tocada sem que esteja chegando alguém de fora”, recomenda a adestradora Laraue Motta. Com o tempo, o som da campainha torna-se um ruído habitual. Outro ponto é submeter o felino a situações divertidas sempre que uma visita chega em casa.

“Peça para que o convidado chame o gatinho ou vá até onde ele estiver para brincar com algum objeto que atraia a atenção dele, oferecer um petisco muito saboroso especialmente reservado para esse momento são ações que vão ajudar o animal a perceber que, quando chegar alguém diferente, seu agrado especial virá junto”, explica. Nesse período de adaptação às visitas é importante manter a calma e respeitar os limites do animal, até que ele se sinta seguro.


7. Gato entediado

Manter gatos vivendo somente dentro de casa, ou seja, sem acesso à rua (indoor), implica garantir que ele tenha atividade e não fique entediado. Por mais que o felino seja um animal solitário, permanecer longas horas em ambiente sem estímulos é prejudicial à sua saúde. Por isso, o grande desafio do enriquecimento ambiental é tentar reproduzir os elementos que felinos apreciam e encontram na Natureza dentro de casa.  

Solução: Para que seu gato explore ambientes verticais, Laraue recomenda aos gateiros que coloquem prateleiras a dispor do pet. Pode ser num canto da sala, num quarto que ninguém usa ou ao redor de uma escada, não importa. O essencial é permitir que eles possam explorar o ambiente de cima, subir e descer, e fazer circuitos aéreos. Outra dica é dificultar o acesso à comida para incentivar que o pet procure por ela. “Espalhar comedouros em vários pontos também ajuda a deixar o gato mais ativo”, diz Laraue. Outro item que auxilia no enriquecimento, e já bem conhecido dos gateiros, são os arranhadores. Teste o modelo que mais agrada ao seu felino e deixe-o à disposição de suas garras. “Além de proporcionar um tipo de atividade, incentivar os gatos a usar arranhadores pode ajudar a manter alguns móveis a salvo das unhas afiadas”, complementa a adestradora.

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